De Vitor Birner

A paz

A tentativa de contratar Abel Braga mostra uma grande alteração do Palmeiras no planejamento do futebol. A temporada foi mais difícil do que imaginavam os cartolas.

Convenceu os dirigentes a mexerem nas prioridades. Roger, em novembro do ano passado, foi o primeiro a receber oferta do clube após a saída de Cuca. A opção era pelo técnico moderno nos conceitos de futebol e sem currículo de conquistas.

A proposta para o treinador do Fluminense mostra alteração de critérios dos cartolas. Sinaliza que, neste momento, ter o especialista em gerir grupos de pessoas agrega mais para o clube que alguém disposto a se manter atualizado sobre dinâmicas de jogo nos gramados.

O encerramento

A direção acha o elenco difícil de ser administrado. É mais barato e construtivo encontrar o líder que investir numa grande reformulação. São necessários ajustes em setores. A manutenção da maioria facilita a formação de time forte.

A temporada foi de aprendizado para os cartolas.

Planejamento inicial

O Palmeiras, quando ganhou o Brasileirão, teve diversos problemas para administrar no CT do clube. O mais difícil provavelmente foi a troca de farpas de Cuca e Dudu nas entrevistas.

Alexandre Mattos resolveu. O presidente Maurício Galiotte, então vice, acompanhou os bastidores do futebol, por isso respeita a competência de quem lidou diretamente com os atletas.

A conclusão dos cartolas, na época, após o sucesso ao administrarem os entreveros que poderiam diminuir a competitividade do time, foi que tinham a força necessária para dar o suporte nos bastidores a todo técnico conhecedor do esporte dentro de campo.

Os exemplos

A rodagem de Eduardo Baptista em clubes gigantes era minúscula. Roger, preferido antes do contratado no início da atual temporada, tinha orientado apenas o time do Grêmio.

Qualquer pessoa com noção critica entendeu qual tipo de treinador estava no planejamento.

Os cartolas queriam alguém promissor, atualizado nas ideais, métodos de preparação e proposta de futebol. Avaliaram que currículo de conquista era irrelevante para o líder do elenco.

O padrão

Uma das dificuldades na cultura da boleiragem é a propensão de parte dos atletas rodados e com títulos menosprezar facilmente técnicos sem grandes êxitos. As preferências por Roger ou Eduardo Baptista mostraram que a direção tinha certeza sobre a própria capacidade para manter os jogadores concentrados nas necessidades coletivas do time dentro dos gramados.

Lembro que se Mano Menezes estivesse disponível, seria o 1° a receber oferta porque tem rodagem e se mantém atualizado dentro de campo.

O tropeço

Cuca se disponibilizou e os cartolas, poucos meses após a conquista dos pontos corridos, quase imediatamente decidiram pelo sim. Acharam que o técnico campeão e com moral tanto dentro do clube quanto na arquibancada conseguiria aproveitar o potencial do elenco.

A rotina contrariou a expectativa dos dirigentes. Os problemas com atletas aumentaram, em campo foi uma bagunça tática e Alberto Valentim, de perfil muito parecido ao do treinador escolhido no início da temporada, ganhou breve oportunidade para surfar na moda dos interinos que podem ser efetivados.

Após o tropeço em Itaquera, a possibilidade do novato continuar praticamente foi encerrada.

O rodado

Abel Braga, na parte tática, investe no arroz com feijão bem temperado. Tenta preparar times com desenhos táticos tradicionais e força coletiva.

Conhece dinâmica de futebol, mas, nisso, há outros tão competentes quanto o veterano. Tem a vivência e a leitura do comportamento dos atletas fora de campo.

A direção agora parece achar tais virtudes essenciais para o planejamento. O currículo de conquistas, antes secundário, ganhou valor para os cartolas.

Os aplausos

Há mais aspectos que fortalecem o treinador na administração de elencos. É uma pessoa muito querida nos bastidores do futebol.

Nunca escutei alguém o criticando pela forma como agiu. Os atletas que o conhecem o respeitam muito, empresários e dirigentes afirmam que é honesto e, dentro de campo, ganhou os principais torneios.