Por que Renato provocou Cristiano Ronaldo? Teria sido melhor evitar
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De Vítor Birner
O Pacheco
A teoria que Renato foi inteligente e tirou o foco do Real Madrid ao citar que foi melhor é furada. É muita fantasia crer que o time rodado, habituado a disputar finais, teve algum prejuízo emocional ou na preparação ao jogo.
Se o Grêmio conseguir a façanha de conquistar o torneio, não será por isso. Ao contrário: terá ultrapassado o obstáculo que o técnico merecedor de elogios, com muito mais acertos que equívocos na temporada, criou para o time.
Mexeu com o atleta competitivo, que resolveu montes de finais e partidas eliminatórias e adora silenciar os críticos.
O artilheiro
O treinador, desde o período como atleta, curte brilhar. Gosta de chamar atenção e ser protagonista.
Nenhum problema, se tiver aval do elenco, agregar ao coletivo e, principalmente, facilitar para o time conquistar resultados positivos.
A declaração que jogou melhor que Cristiano Ronaldo pode ser o capítulo inútil, tolo, perigoso para o clube que entrará em campo como a zebra na final. O momento no qual a vaidade ganhou da simplicidade essencial para a alma do futebol.
Pode ter mexido com o principal jogador do favorito.
A concentração
Diante do Al Jazira, o clube gigante da Europa atuou com padrão coletivo similar ao de uma pelada entre pessoas que raramente entram em campo. Quase nenhum compromisso e concentração, muita ousadia para criar gols e desdém com o que o oponente podia construir.
Na final, mesmo antes de o técnico iniciar a competição pessoal sem maldade contra quem ainda dribla e finaliza, provavelmente estava garantido mais comprometimento do badalado elenco.
A cutucada pode otimizar a atuação do melhor jogador, aumentar a natural dificuldade para o Grêmio conquistar o torneio.
A sabedoria
Os chucros afirmam que a verdade apenas por si é necessária. Os sábios preferem a metáfora que a menciona como a água para regar plantas.
Se estiver pelando, queima. A verdade precisa ser construtiva. Se for para agredir, extravasar raiva ou atrapalhar, pode ser mais prejudicial que a mentira e certamente será que o silêncio.
Uma declaração humilde, elogiosa, generosa para driblar o que afirmou no início da temporada e repetiu ontem, seria mais positiva.
A opinião
Nem se Renato Gaúcho tiver jogado mais futebol que o artilheiro, a comparação fortalecerá o clube na final.
A personalidade
O técnico curte brilhar, se promover e desafiar. Naturalmente gera polêmicas, entre as quais algumas positivas para o futebol.
Isso é dele. Não precisa se esforçar. Foi assim como atleta. Após ambos se classificarem, a comparação gerou mais debates que os times e a provável dinâmica da final.
O Grêmio e a torcida aprovam, então segue o jogo.
Os planetas
Detesto comparar atletas doutras épocas com os da atual. São quase dois esportes
A dinâmica dos jogos, as regras e os critérios da arbitragem, os gramados, a relação do atleta e da arquibancada com a agremiação, além de outros detalhes foram alterados e proporcionaram condições distintas para os aposentados e os em atividade.
O futebol
Renato, quando jogador, atuou no esporte muito mais violento e desleal. Hoje qualquer sujeira dentro de campo gera chiliques e o turbilhão de críticas do público.
Cristiano é um atleta protegido pelo sistema do esporte. As imagens impedem lances iguais aos que antigos craques precisaram gerenciar. O artilheiro rende grandes fortunas, é produto além de ser humano, e ai de quem exagerar numa dividida porque será execrado pela grita na internet e em grande parte dos setores onde se debate o futebol.
Provavelmente, alguns lances em que comemorou o gol teriam sido interrompidos por carrinhos nas canelas e, noutros distante da bola, receberia pancadas com as quais os então elogiados 'xerifões' zagueiros e volantes conseguiam se impor nos gramados.
Isso dificulta qualquer comparação.
Após Renato encerrar como atleta, a ciência teve grandes avanços na preparação dos elencos, sistemas de marcação ganharam força e diminuíram as brechas para a criação, a velocidade e a intensidade aumentaram. A resposta sobre quem jogou melhor é uma caricatura da realidade nos campos de futebol.
A competência em dribles, toques e finalizações, e a regularidade para se manter no topo sugerem o português como ganhador da tola eleição.