Sampaoli é brilhante, mas erra por não imitar Tite nas eliminatórias
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De Vitor Birner
Planetas opostos no futebol
Edgardo Bauza tem perfil conservador. Gosta de sistema de marcação forte e adapta a criação ao potencial dos elencos.
Montou times que priorizaram toques de lado enquanto tentavam encontrar lacunas por fora das linhas dos oponentes, e outros que atuaram recuados, investindo na velocidade para construção dos momentos de gol.
Aprecia a milonga e a catimba, admite riscos apenas quando necessários, raramente sorri durante os jogos apesar de adorar uma conversa sobre futebol, mantém a frieza na beira do gramado.
Jorge Sampaoli tem perfil contemporâneo.
Se mexe fora como se estivesse dentro do campo, é ousado, irrequieto, nunca parece completamente satisfeito com a produção dos times que orienta, e crê na versatilidade coletiva para conquistar torneios.
Altera a estratégia de jogo para jogo e durante o jogo, alguns de seus atletas necessitam atuar em mais de uma posição, além de entenderem as alternâncias de propostas do futebol.
Tem repertório variado e amplo, enquanto o colega rodado, que assumiu a classificada Arábia Saudita, é mais calculista, pés nos chão para atingir os resultados.
O elenco dos 'hermanos' combina muito com quem atualmente o orienta.
O prazo
Os cartolas da AFA merecem críticas por montes de equívocos, mas aplaudo por optarem pelo treinador que foi do Sevilla na última temporada.
Mesmo assim, creio que Bauza conseguiria mais pontos, nas eliminatórias, e a seleção, hoje, viveria momento melhor para se classificar.
Sampaoli tropeçou na teimosia. Ciente da urgência por resultados, sem prazos necessários para implementar as propostas de futebol que aprecia e com oponentes mais fracos para ganhar dentro do próprio país, poderia cumprir o beabá que Tite seguiu no Brasil e montar time com cada atleta jogando tal qual na agremiação.
Depois iniciaria o que pretende e tem competência para realizar com o talentoso elenco.
Com Bauza, aposto, os 'hermanos' ganhariam, nem que fosse na marra, da Venezuela ou do Peru em Buenos Aires, talvez de ambos, e iriam para o Equador com mais paz.
Sampaoli tinha obrigação de obter melhores resultados nesses 2 jogos.
Os números
Os 'hermanos com Bauza ganharam da Colômbia (3×0), o Uruguai (1×0), Chile (1×0) e tropeçaram diante do Paraguai (ox1) atuando dentro do país.
A campanha nem foi brilhante e nem merece tantas críticas. Resultados positivos contra times mais fortes que o venezuelano e, naquela fase, que o peruano, sugerem como improváveis os empates iguais aos de Sampaoli na capital.
A troca de técnicos foi após perder em La Paz para a Bolívia, mas Bauza, nos dois jogos anteriores em Buenos Aires, tinha conseguido superar colombianos e chilenos.
A campanha de Bauza quando os 'hermanos' atuaram fora do país teve também o tropeço normal frente o Brasil e os empates contra Venezuela e o Peru
Sampaoli conseguiu os mesmos dois pontos contra essas seleções, mas diante da 'hinchada' em Nuñez e depois na Bombonera.
No outro jogo do atual treinador da seleção, foram 3 no total, empatou contra o Uruguai.
A conclusão
Sampaoli sabe melhor que todos nós que a assimilação das proposta de futebol que implementa pode ser demorada. Seria atípico para os atletas compreenderem e praticarem a dinâmica em tão pequeno prazo.
A urgência de pontos pedia que apenas dessa vez optasse por algo mais simples e de fácil adaptação. Após a classificação poderá investir naquilo que tem de especial, que é preciso para quem orienta elenco acima da média, que tanto admiro e pode ser o diferencial para garantir a conquista do Mundial, e talvez equipare o desempenho de cada atleta na seleção com o da agremiação.
Imagine o time em que Dybala, Higuaín e Messi, apenas para citar alguns, rendem como nos clubes.
Sí se puede
Os 'hermanos' continuam dependendo apenas do próprio desempenho para se classificarem, nem que seja na repescagem.
Torço pela competência de quem entrará no gramado de Quito e terá que impor as regras do futebol.