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Corinthians tinha obrigação de jogar melhor que o São Paulo; não conseguiu

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De Vitor Birner

Corinthians 1×1 São Paulo

Desde quando souberam que após a semifinal da Libertadores o time de Bauza teria que ir à Itaquera, muitos analistas e torcedores, de ambos os lados, tiveram plena convicção que o Alvinegro ganharia o jogo.

Antes do futebol

O Alvinegro teve o necessário para chegar ao clássico em condições muito melhores que as do oponente. Tudo favorecia para  ganhar.

Atuou sábado retrasado e apenas treinou depois.  Nesses dias em que o Corinthians fez os ajustes e podia melhorar a condição física do elenco, o São Paulo entrou duas vezes no gramado, domingo com monte de reservas diante da Ponte Preta, e quarta-feira na Libertadores.

Ambos os jogos do time de Bauza foram longe do Morumbi;  o de Medelim, onde mostrou elogiável empenho, exigiu horas de avião e plena concentração do elenco.

O mesmo tinha ocorrido na outra semana em que o Alvinegro treinou enquanto houve a semifinal no Morumbi,

Havia mais pontos favoráveis:  o clássico em Itaquera, diante da torcida do Corinthians, onde o gramado é escorregadio, a bola fica mais veloz e a agremiação campeã nacional mostra força para conseguir resultados positivos, e o São Paulo ainda tentando digerir os equívocos na imposição das regras, que muitos avaliam como fundamentais na eliminação Libertadores.

Tinha que oferecer muito mais

Ambos os treinadores optaram pelo 4-2-3-1. O do Corinthians montou o trio de criação com Romero na direita, Marquinhos Gabriel do outro lado e Giovanni Augusto no meio.

Orientou que se mexessem para tentar confundir a marcação, assim como fez com Danilo, o falso centroavante que pouco permaneceu na área.

O veterano se deslocou, em especial ao setor do lateral Bruno, pois queria fortalecer a criação e abrir as lacunas na área, onde Rodriguinho e Bruno Henrique deveriam ir e conseguir as finalizações.

Tite implementava estratégia similar, mas com algumas poucas opções distintas na formação. Provavelmente, se ainda fosse técnico da agremiação, faria igual, testaria o veterano após oferecer oportunidades a outros jogadores e nenhum mostrar o futebol necessário.

A estratégia foi ineficaz. Apenas quando o time acertou a marcação adiantada e impediu o oponente de fazer a transição à frente e ditou o ritmo tal qual o treinador queria.

O elenco que mostrou mais empenho

Edgardo Bauza, além de todos os entraves para montar time competitivo, tem que fazer ajustes na dinâmica de jogo. Ganso foi negociado e no elenco não há atleta com as características do meia.

Os centroavantes, quarta-feira,  que podia colocar em campo eram Calleri e Alan Kardec.

No clássico tinha as opções de Ytalo e Gilberto, outro abaixo da condição física necessária, que chegou faz dois ou três dias ao CT da Barra Funda, ambos tecnicamente piores  que os antecessores da função.

Havia tendência de queda na qualidade do futebol do time que nesse mês foi eliminado da Libertadores.

Quase todos os aspectos que entram no gramado durante jogos grandes, o físico, o tático, a técnica individual e o mental, favoreciam ao ganhador da última edição do torneio de pontos corridos.

O andamento, desde o início do clássico, contrariou a lógica de preparação dos times,.

Competitivos, raçudos, atentos às necessidades coletivas, os jogadores do São Paulo conseguiram mais momentos de igualdade e de pequena superioridade, do que necessitaram gerir os de imposição do atual campeão.

O jogador que mais brilhou

Cueva foi o melhor no clássico, apesar da falta de entendimento com Ytalo.

O centroavante, isolado na frente, pouco fez.

No lance do gol, o meia driblou o oponente, entrou na área, foi chutado por Iago e finalizou o pênalti com precisão.

Durante o jogo atuou como principal referência na criação.

Foi escolhido para atuar no meio do trio no 4-2-3-1 [o esquema flutua para o 4-4-1-1 quando o time marca atrás da linha que divide o gramado] com Centurion à direita e Michel Bastos do outro lado. Manteve desde o início padrão elogiável. Mostrou personalidade,  liderança, e se mantiver isso agregará ao time qualidade técnica e força coletiva.

Melhor momento no jogo

O gol do empate aconteceu após Mena se equivocar ao fazer a intervenção. O problema foi a leitura do lance, pois executou o fundamento como imaginou.  O rebote de Rodrigo Caio foi na medida para Bruno Henrique.

O volante, perspicaz ao notar Denis deitado no gramado, cabeceou e comemorou.

O time, embalado pela igualdade na única vez que conseguira finalizar, após não ter quase nenhum volume de jogo ofensivo, empurrou o oponente para trás.

Com o sistema de marcação mais adiantado aumentou a intensidade e tocou a bola no campo de frente.

Muitos torcedores, talvez de ambas as agremiações, cogitaram que era indício de outro resultado positivo do Alvinegro. Marquinhos Gabriel, o melhor do trio de criação corintiano no jogo, criou a única grande oportunidade. Rodriguinho finalizou e Denis fez a intervenção mais difícil do clássico.

Depois o São Paulo acertou a transição, encerrou a empolgação corintiana, e ninguém conseguiu finalizar.

Uma para cada

Os treinadores orientaram os times durante o descanso, mas não fizeram alterações.

Hudson, no início, ficou em frente ao Cássio. Preciso, o remanescente das maiores conquistas na agremiação não fez o pênalti e impediu o gol.

Em seguida, o Corinthians conseguiu triangulação na direita, houve o cruzamento, o sistema de marcação de Bauza se equivocou e Romero cabeceou dentro da área com ambos os pés no gramado.

Denis aos 10 minutos fez a intervenção na última oportunidade do oponente ganhar.

Treinador insatisfeito com o meio

O Alvinegro sempre forçou os lances pelos lados. Romero poderia ganhar a disputa contra Mena porque tem mais condição física.

Fagner apoiou, Giovanni Augusto se aproximou para as triangulações. do lado de Marquinhos Gabriel e Uendel a dinâmica foi similar.

Cruzamentos e assistências equivocadas, e a dificuldade para os volantes entrarem na área em condições de finalizar, tornaram pobre o sistema de criação.  Cristóvão Borges preferiu manter quem atuou do lado.

A insatisfação do técnico com quem jogou mais ao centro ficou óbvia nas alterações.

Quis otimizar essa chegada na área com Elias na vaga de Rodriguinho, e a criação com Guilherme na de Giovanni Augusto. Ambas foram ineficazes. Nenhuma funcionou. O São Paulo melhorou.

Mesmo cansado

Na Libertadores, a agremiação de Bauza, porque não tem plena condição física, teve rendimento pior que a própria média quando restava cerca de meia hora para o encerramento dos jogos na semifinal.

O Alvinegro, imagino, observou isso e fez o planejamento para ganhar em Itaquera.

Treinador da agremiação do Morumbi, por questão técnica, aos 25 pôs o estreante Gilberto como centroavante e deslocou Ytalo para função de Centurión. Em seguida trocou o extenuado Michel Bastos por Luiz Araujo.

O Corinthians insistiria nos lances pelos lados e era necessário ter jogadores inteiros para fazerem tanto a parede diante dos laterais quanto chegarem na frente.

Cueva atuaria diante do Mena, mas Ytalo se machucou e o técnico o substituiu por Wesley. O volante se posicionou no trio de criação, Luiz Araújo foi para direita e o gringo ficou no meio.

Ineficaz

Cristóvão Borges optou por Rildo e tirou Marquinhos Gabriel do gramado. Poderia, no contra-ataque, conseguir o gol.

O time continuou igual.  Insistiu mais nos lances pela direita, mas o substituto entrou para atuar do outro lado.

O São Paulo ficou com a bola no entorno da área do Alvinegro. Teve duas grandes oportunidades, ambas com o Wesley, e o sistema de marcação impediu as finalizações.

Ruído explica

A vaia que a torcida  – quebrou o recorde do comparecimento na Arena – entoou na arquibancada, após o encerramento do clássico,  mostrou como foi o desempenho do Alvinegro no gramado.

O São Paulo, apesar de tantos entraves antes do clássico, jogou pouco melhor.

Resultado foi inquestionável

Péricles Bassol, o escolhido para impor as regras do jogo, marcou faltas tolas e mostrou mais cartões que o necessário. Cueva colocou as mãos nos ouvidos ao comemorar e foi amarelado.

A determinação foi de quem fez a escala e inventa modismos pífios para resolver os problemas no gramado, mas na prática não melhora quase nada e espanca a alma do jogo. Emoção e espontaneidade são essenciais no futebol.

As orientações, ao menos dessa vez, não estragaram o que houve no gramado. O resultado foi gerado apenas pelos equívocos e acertos dos atletas e treinadores.

Ficha do jogo

Corinthians – Cássio; Fágner, Yago, Balbuena e Uendel; Bruno Henrique e Rodriguinho (Elias); Romero, Giovanni Augusto (Guilherme) e Marquinhos Gabriel (Rildo); Danilo
Técnico: Cristóvão Borges

São Paulo – Denis; Bruno, Maicon, Rodrigo Caio e Mena; Hudson e Thiago Mendes; Centurión (Gilberto), Cueva e Michel Bastos (Luiz Araújo); Ytalo (Wesley)
Técnico: Edgardo Bauza

Árbitro: Péricles Bassols (FIFA-PE) – Auxiliares: Alessandro A Rocha de Matos (Fifa-BA) e Guilherme Dias Camilo (Fifa-MG)