Blog do Birner

Futebol necessita mais simplicidade; estão matando a alma do esporte

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De Vitor Birner

Cartolas são obstáculo

Os responsáveis pelo cumprimento das regras nos jogos entram no gramado com montes de orientações que estragam o futebol. A comissão de arbitragem da CBF é quem as impõe.

Em todas as temporadas há alterações de critérios. Nas últimas aconteceram durante os torneios, em nome do que os cartolas da entidade chamam de aprimoramento.

Houve momentos em que a Fifa fez recomendações e os dirigentes da entidade nacional simplesmente não compreenderam. Foi assim, por exemplo, na questão da infração pelo contato da bola com o braço dos jogadores.

Apenas quando Jorge Larrionda, instrutor da pauta, veio ao país ministrar aula, os dirigentes especialistas daqui tiveram noção do que era permitido. Mas haviam acontecido jogos do torneio de pontos corridos,  nos quais outros critérios foram implementados.

Em suma, houve, antes do 'hermano' fazer as explicações, a distorção dos resultados em algumas rodadas por incompetência da cartolagem, e não de quem escolheram para entrar no gramado.

Mas não se coloca dirigentes, o cerne dos problemas da atividade que a população outrora se orgulhou por ter a melhor do planeta, na geladeira.

Quando a alma é agredida

A medida mais chamativa do momento é a proibição de os treinadores falarem com a autoridade em campo. Essa ideia com certeza surgiu de alguém que não gosta do que faz.

Futebol é esporte barulhento dentro e fora do local em que se joga. Time que atua em silêncio, normalmente tem problemas internos e não é campeão.

Muitos técnicos jogam com os atletas

É normal que os treinadores tenham algumas reações similares as de quem corre nos gramado. Não podem, como acontece com qualquer jogador, xingar os árbitros.

O critério para todos deve ser idêntico. Futebol, reitero pela enésima vez, tem disputa técnica, tática, física e emocional.

O 'cala a boca' em alguém mina grande parte da essência do jogo. É tentativa de transformar o ser humano atleta em robô. Noutra leitura, o futebol em videogame.

Fundamental:

A Comissão de Arbitragem coloca na geladeira quem não cumpre a determinação de excluir os técnicos que reclamam durante os jogos. Os próprios responsáveis pelo cumprimento das regras são oprimidos pelos chefes antes de entrarem no gramado.

É a cultura do que chamamos de politicamente correto, implementada por pessoas que, provavelmente, não gostam do esporte e são gestores para terem poder e dinheiro.

O que não é do futebol

Tal ambiente redunda em algumas bizarrices como a exclusão de Matheus Reis por fazer a falta na qual mereceu inquestionavelmente o amarelo. Vinícius Furlan alterou a cor do cartão após ser chamado e observar o machucado na perna do Matheus Jesus da Ponte Preta.

A regra não faculta ao senhor do apito a competência de avaliar grau de lesão. Considera mais a intenção ou a brutalidade, essa última se houve grossura do marcador.

Lembro que, mesmo se houvesse tal incumbência que exige curso de medicina para aprender a diagnosticar, o machucado não foi tão sério. Retornou ao gramado e após dar a cotovelada em Centurión e tomar o amarelo, Eduardo Baptista o tirou para impedir a exclusão.

Divididas normais muitas vezes geram machucados mais feios que a a realidades dos mesmos.

Acontecem, são parte do esporte.

Foi no terrão

Faz menos de mês houve o exemplo preciso no jogo do Autônomos, time de várzea que se dispôs a me aguentar como técnico.

O centroavante Bruno ficou com a perna assim em lance que considerou falta, não foi marcada, mas não houve intenção de machucar.

bruno

Na hora o Daniel, colega de time, foi à farmácia, comprou água oxigenada, a região foi lavada e o 'atleta' saiu.

No outro jogo, após sete dias, não pretendia colocar o artilheiro, o campeonato começaria no outro sábado, mas é fominha e falou que não havia problema, atuou e saiu feliz.

Não havia rancor contra quem gerou o machucado na foto e nem ficou valorizando. Quando os familiares e colegas perguntaram, afirmou que foi 'menos feio que parece'. Desde então atua normalmente.

O varzeano, que tem hoje em dia mais alma de futebol que muitos dos crescidos em centros de treinamentos, sabe que isso faz parte, pois é atividade brusca.

E que o maior ensinamento para quem joga é deixar qualquer intriga dentro do terrão. Nada pode ser pessoal. O esporte exercita a ética. Quando aplicada noutras questões, o futebol se torna educativo, construtivo, ao invés de objeto de fomento do ódio e atividade que pretende apenas gerar lucros econômicos.

Não nasceu como negócio e nem cresceu por tal razão.

Se insistirem na ideia, irão, como têm feito nos critérios de regras, discursos sobre o jogo e padronização elitista de arquibancadas, irão matar o esporte.

Os prejuízos são muito óbvios

Apenas quem é incapaz de avaliar o que acontece nos gramados – os sintéticos deveriam ser vetados – acha que o atleta atualmente tem a alma esportiva parecida com a dos jogadores de outrora.

Alguns a mantêm, mas o número é cada vez menor e tende, em décadas, a ter o mesmo destino de tigres dentes-de-sabre, antílopes de cor azul e outras espécies extintas em nome do que os tecnocratas chamam de evolução.

Não falta gente disposta a comprar qualquer bobagem que for classificada como modernidade e justificada porque aumenta as receitas. Como se dinheiro fosse a meta em vez de uma das ferramentas que a constrói. A esses, relembro, euros e reais não jogam futebol.

Podem contratar quem faz e nem assim compram os sentimentos sinceros de qualquer ser humano ou animal da natureza.

O profissional que sente os resultados, se esforça para melhorar, sabe da importância da agremiação para os torcedores, e quer contribuir e respeita os oponentes, com certeza merece a reverência por recusar ser parte da maioria.