Blog do Birner

Neymar, ouça o Zeca Pagodinho e evite reclamar de barriga cheia

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De Vitor Birner

O apoio

Neymar é fruto de uma cultura de futebol que reverência o individualismo.  Desde quando subiu das categorias de base do Santos teve regalias dentro dos gramados.

Debati muito com os torcedores e alguns de meus colegas, que exigiam dos árbitros proteção ao craque em campo.  Reclamavam em qualquer dividida e conseguiram construir um tsunami que forçou os árbitros a alterarem as regras do futebol.

Foi o ápice do estilo 'não me toque que é falta', implementado pela gritaria que distorce completamente a alma do esporte.

Estou falando de um jogo ríspido e viril na essência.

Futebol é competição física, técnica, mental e coletiva (demoraram para entender a última em nosso país). Todas são parte da estratégia para a conquista dos resultados.

Em suma, encostavam no habilidoso e imediatamente o berro uníssono por falta era emitido, inclusive em lances comuns.

Era uma espécie de levante contra carrinhos, divididas na bola e jogo de corpo. As repetições insistentes de cada momento e com a utilização da câmera lenta – altera a impressão sobre o lance e facilita as reclamações – induziram quem não conhece a dinâmica no campo a achar que o permitido era inaceitável.

Lembro de explicações que nada diziam.

''Encostou'' e ''tinha um braço nas costas'' foram algumas para afirmarem que aconteceram faltas e pênaltis em lances nos quais Neymar cavou, interpretou,  valorizou, pois conseguia cartões para os oponentes e aumentava o número de assistências e gols.

Noutras nações

Quando foi atuar em Londres, tais lances eram chamados de 'shame diving'. Traduzindo, mergulho vergonhoso.

Imagino que pouco entendeu. Foi educado para o futebol com critérios que existem apenas aqui, onde constantes simulações geram resultados positivos.

Na Europa, essa foi a grande dificuldade para se adaptar.

Melhorou muito, aprendeu que por ser craque tem que gerenciar essa dinâmica do esporte, mas mesmo assim continua reclamando por nada.

''Isso faz parte, foi um cartão amarelo onde eu não tive culpa, não quis deixar a mão na cara dele. Mas vai da interpretação do juiz, e como sempre pro meu lado nunca é a favor'', afirmou depois do jogo diante do Chile por causa do amarelo que mereceu.

O jogador que continua protegido, tal qual Cristiano e Messi, que por ter a reverência da opinião pública pode encerrar a carreira de oponente que eventualmente o machucar em campo, reclama.

A orientação

Seria construtivo para o craque, se o estafe que tão bem administra suas trocas de agremiação o orientasse para entender que é muito mais privilegiado que prejudicado pelas arbitragens no futebol.

A música

Como curte o samba, recomendo a canção Maneiras, composta por Sylvio da Silva e interpretada pelo brilhante Zeca Pagodinho, e que afirma no refrão.

''Mas digo sinceramente, na vida a coisa mais feia é gente que vive chorando de barriga cheia''.

Neymar, repito pela enésima oportunidade, é craque, provavelmente será o melhor do mundo, mas nunca pode ser colocado acima do futebol.