Blog do Birner

Cássio x Vanderlei e as críticas exageradas para Tite

birner

De Vitor Birner

Critérios respeitáveis

O ganhador da eleição de melhor goleiro do último brasileirão foi Jaílson. Vanderlei ganhou o meu voto.

Na atual edição do torneio, o santista elevou o padrão. Merece oportunidade na seleção, o que não obriga Tite a convocá-lo, nem torna equivocada a opção do treinador por outros goleiros

O melhor do país na temporada da conquista do tetra era Zetti; Taffarel brilhou.  No penta, São Marcos tinha Dida e o Rogério Ceni na concorrência pela vaga.

Atualmente há uma leva de goleiros competitivos e o técnico tem seus critérios.

Na disputa equilibrada, Tite pode considerar o desempenho em jogos decisivos, principalmente nos grandes torneios, e a experiência de atuar em agremiações que disputam a Liga dos Campeões na Europa.

Ou, simplesmente, ter preferência técnica pela concorrências de quem fecha o gol no Santos.

Nada disso é absurdo. Reitero: acho o desempenho do atleta do elenco de Vila Belmiro, desde o ano passado, o melhor entre os goleiros dentro do país.

Possível entender

O técnico mantém o Vanderlei na lista de possíveis convocados.  Reconhece os méritos e tem outras prioridades.

Cássio ganhou muitos pontos porque garantiu grandes conquistas. O preterido nem sequer teve como igualar, porque os elencos nos quais atuou foram incapazes de disputar semifinais e decisões de Mundial e Libertadores.

O goleiro santista pode, tal qual tem conseguido, empurrar o clube adiante no torneio continental.

A manutenção do atual padrão nos momentos mais tensos em campo aumentará a cotação para ser convocado.

Além dos campos de futebol

Entendo também a indignação que a ausência de Vanderlei nas listas de Tite gera em grande parte dos torcedores. Há mais que simplesmente avaliação técnica nas reclamações.

O Corinthians tinha o grande patrocínio e construiu uma Arena por influência do governo anterior.  O clube foi o que mais conquistou torneios na década, tem muito espaço na mídia, cotas de transmissão de jogos mais ricas que as de quase todos os demais, e milhões creem que recebeu privilégios de arbitragem.

Cássio atua nessa agremiação. A predileção do técnico, certamente fundamentada em algo construído apenas dentro dos gramados, é encarada por quem mistura tudo como mais uma regalia para a instituição.

Entra no bolo de facilidades que supostamente há e incomoda quem torce para outra agremiação.

Os trâmites para a construção da Arena merecem críticas, o valor e o patrocínio do banco contribuíram na formação de elenco nas conquistas, as cotas poupudas de transmissão fortaleceram, mas o goleiro, por competência, brilhou na final do Mundial.e impediu Diego Souza do Vasco eliminar o Corinthians da Libertadores.

Apenas um detalhe 

O país vive o momento de ultra-maniqueísmo; no córner direito do ringue há o culto ao egoísmo, a expertise na fabricação das 'fake news' e o aumento na quantidade de intransigentes, o que impede a construção da harmonia coletiva.

No esquerdo está a padronização de sub-clichês e o discurso legalista, conveniente para as pretensões políticas, e generosidade diante da corrupção que fortaleceu o outro lado.

Interessados de centro que aguardam os rumos para saber quem apoiam, além de montes de personagens diretos e indiretos da política, eleitores arrogantes –  pouco sabem e têm opinião formada  – e ódio compõem o ambiente em que o Brasil mergulhou.

O futebol está inserido nesse amontoado onde são raras as avaliações técnicas e a essencial  generosidade.

O resumo  

Hoje, escalaria Vanderlei para a seleção do Brasileirão. Talvez votasse nele como atleta de melhor desempenho entre todos que atuam no torneio, mas entendo plenamente a opção de Tite.

Há concorrência, o treinador tem o goleiro principal, a disputa é para completar o trio e, como os reservas poucos entram nos gramados com a camisa da seleção, é normal o técnico preferir quem mostrou estar preparado para os jogos que aumentam o 'frio na barriga' dos atletas de futebol.

O técnico necessita montar elenco capaz de gerenciar o imprevisível dentro do gramado. Pode alterar a escolha, mantê-la, se equivocar,  assim como qualquer convocado atuar abaixo do necessário em jogo decisivo.

Tudo isso é do esporte.

O treinador monta o planejamento para diminuir tais possibilidades. Esse é o limite que o futebol, a natureza e Deus oferecem ao mortal, o treinador competente da seleção avaliada tal qual uma das favoritas à conquista do torneio.

Pode sim

Nessa onda ultra-maniqueísta, há os que creem que Tite não pode ser criticado.

Se enganam. O treinador se equivoca. Nenhum, desde quando assisto o esporte, foi plenamente preciso.

Não existe exceção: Guardiola, por exemplo, afirmou que errou na avaliação do elenco do Manchester City para a edição anterior da Premier League.

Ninguém tem capacidade para acertar tudo no futebol.

As reclamações, se os autores querem construir, melhorar o time, necessitam ser positivas, e com a merecida paz ao técnico que tem mostrado capacidade para implementar dinâmica competitiva nos gramados e montar o elenco.