Saiba o que Rogério ‘Osório Sampaoli’ Ceni e Leco esperam da temporada
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De Vitor Birner
As enormes ambições
O primeiro a chegar e o último a sair do CT da Barra Funda. Essa foi a rotina de Rogério Ceni, inclusive na fase de veterano, elogiado pela dedicação e competitividade embaixo das traves.
Nesse início da carreira à beira dos gramados, o ex-atleta aumentou as doses de empenho. Monta as atividades diárias, planeja estratégias embasadas nas características dos oponentes e tudo mais que irá acontecer antes, durante e depois dos jogos.
Tem metas ambiciosas e planejadas para o biênio do contrato. Nas negociações com o Leco, solicitou três anos, mas acordaram por menor prazo.
As conversaram foram além de questões matemáticas.
Apresentou a proposta de futebol que pretende implementar, quem gostaria de ter na comissão técnica para viabilizar as ideias e, enfático, afirmou que ''precisa'' classificar o time à Libertadores e ganhar o torneio na próxima temporada. Estipulou objetivos do tamanho da agremiação para si e ao elenco.
Simples para quem quiser entender
A Copa do Brasil, a Sul-Americana e a competição nacional de pontos corridos oferecem o que o treinador sabiamente considera prioridade.
Em suma, o Estadual tem que ser jogado como torneio preparatório. As oportunidades aos atletas da base, os experimentos nas escalações e na estrutura coletiva têm que acontecer nessa competição.
Isso não significa que o Estadual seja menosprezado no Morumbi. É apenas secundário.
Todos no clube querem ganhar.
Mas a comissão técnica pode, por exemplo, ser precavida e poupar atletas que atuariam em jogos maiores, decisivos, pelos torneios que disponibilizam a vaga na Libertadores.
O torcedor mais construtivo, ao acompanhar as partidas, reflete sobre a filosofia de futebol que o treinador implementa, e se nota competência o apoia na agremiação.
Ampliar horizontes como fez quando goleiro
Os mais jovens talvez sequer saibam e a turma da conveniência obviamente se esquece, mas Rogério Ceni, ao optar pela relevante missão futebolística de cobrar faltas, recebeu grande saraivada de críticas.
Algumas respingavam nos colegas de clube. Antes de o goleiro se consagrar com as conquistas e gols decisivos, a turma conservadora, incluindo na própria torcida,questionava se nenhum atleta de linha podia ser o encarregado. ,
Afirmava que pretendia aparecer, chamar a atenção, brilhar acima dos outros, fazer média com a arquibancada.
Achava absurdo o goleiro sair de baixo das traves para cobrar as faltas.
Chilavert, que fazia isso antes, tinha discurso forte, era provocador, folclórico e foi e referência para as comparações cheias de preconceitos e desprovidas de embasamento técnico para avaliar a virtude do artilheiro.
Na condição de treinador o novato repete o inconformismo construtivo mostrado na última década do século anterior. Ao invés de cumprir o clichê de grande parte dos colegas iniciantes e rodados, que recomenda conservadorismo tático vestido com roupa moderna, prefere investir na proposta atualizada e ousada de futebol.
Poderia, para diminuir a possibilidade de tomar gols e tropeçar no início da temporada, congestionar as lacunas entre as linhas da área e do meio de campo (são 36 metros de gramado para 8 ou 9 jogadores marcarem), enquanto prepara o leque de alternativas e fortalecer o sistema de criação.
O treinador faz o contrário: prefere sistema de marcação adiantado, intensidade, contundência nas tentativas de retomar a bola e velocidade em direção ao gol.
Altera 0 3-4-3 com jogadores pelos lados do ataque pelo 3-4-1-2 e 4-3-3, e provavelmente preparará o 4-1-4-1 posicionado alguns metros mais atrás, porque durante a temporada o desgaste dos atletas é grande e, quando o time sair na frente, pode optar pelo contra-ataque para ganhar os jogos.
Se conseguir, o time saberá atuar como os oponentes e terá muito mais opções para mexer na tática e somar pontos.
O entrosamento e o início
No torneio dos EUA, ambas as opções foram testadas. No Estadual, por enquanto preferiu a mais ousada.
O pouco entrosamento foi fundamental na derrota contra o Audax. A marcação na frente foi menos intensa que a necessária. O time de Osasco, por isso, ultrapassou o bloqueio adiantado e no contra-ataque somou os 3 pontos.
Os zagueiros, nessa proposta, atuam na linha do meio de campo. Os 36 metros que a maioria dos treinadores congestiona ficam despovoados e forçam os defensores (lateral ou o volante com a dupla de beques) a apostarem corrida com os atacantes velozes do oponente.
Rodrigo Caio como volante se perdeu no lance do golaço.
Diante da Ponte Preta, o treinador manteve a estratégia e alterou a escalação. A marcação intensa na área do Aranha dificultou para os campineiros fazerem a transição à frente. O São Paulo teve muita posse de bola, além de permanecer naquela região do gramado.
Martelou e fez os gols. Os que tomou foram em contra-ataques, ambos após equívocos de atletas que atuaram na segunda linha, pois com o time adiantado tais bobeiras facilitam para os oponentes criarem grandes oportunidades e comemorarem.
No primeiro o sistema de marcação conseguiu recuar com 8 jogadores atrás da linha da bola, mas havia alguma bagunça pela urgência da movimentação, a brecha para a finalização, e aconteceu a falha de Sidão.
Detalhes geraram o resultado negativo e o positivo.
A pior atuação do São Paulo, desde os amistosos, foi contra o Moto Clube. Com ritmo abaixo e quase nenhuma inspiração no gramado pesado, aparentemente cheio de areia, conseguiu a classificação.
O entrosamento aumentará a força coletiva. Somado ao aprimoramento da condição física – tenho dúvidas nisso porque é desafiador gerenciar o monte de jogos – tornará o time mais intenso e diminuirá as oscilações no desempenho.
Isso costuma demorar mais que preparar o time para marcar atrás, contra-atacar e investir em cruzamentos.
Impacto de Juan Carlos Osório
O ex-goleiro teve treinadores aos montes no período em que atuou embaixo das traves. Iniciou com Telê Santana, o mestre dos mestres, inigualável por desenvolver como nenhum outro os fundamentos dos atletas e por embutir em muitos a educação e o comprometimento com o futebol.
Na estratégia de jogo, o mais elogiado pelo ídolo da torcida era o Paulo Autuori. A descrição precisa do que o Liverpool faria no Mundial, além doutros acertos, geraram a admiração.
Quando conheceu os métodos e as proposta de futebol do Juan Carlos Osório, descobriu novo planeta da tática e e metodologias de preparação do elenco.
Muitos antigos conceitos ruíram.
A influência de Juan Carlos Osório e a de Jorge Sampaoli são grandes. As propostas que pretende implementar mostram que os estrangeiros servem como maiores referência no início da empreitada.
Em breve algum conservador chamará o Rogério Ceni de Professor Pardal, tal qual houve com o gringo que foi trenador na agremiação do Morumbi. Acho que não aconteceu após o tropeço contra o Audax porque reacionários valorizam nomes e o do ex-goleiro é gigantesco no esporte mais popular do planeta.
Ambição que merece ser elogiada
Não pretendo apelidar o Rogério e tampouco acho que tem a qualidade dos citados na manchete. Com mais rodagem pode agregar a sabedoria que o tornará tão ou mais competente que os colegas que admira.
Fiz a brincadeira porque tenho a impressão que os tem como maiores referências. Sou grande admirador de Juan Carlos Osório e de Jorge Sampaoli, e acho construtivo algum treinador de agremiação gigante em nosso país tentar implementar conceitos similares aos de ambos os revolucionários do futebol.