Supersticioso e capaz, Cuca é melhor que Marcelo e Oswaldo de Oliveira
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De Vitor Birner
Dirigir o ônibus sempre para frente é obrigação do motorista quando conduz o elenco aos jogos.
No Santos, pediu para trocarem o lado do símbolo, para a direita, na sua camisa da comissão técnica.
Essas pseudo-crenças, que não devem ser contrariadas, são parte da carreira do treinador folclórico e competente.
Superstições, concorde ou não, devem ser respeitadas. São parte do futebol e da própria existência de quem crê, cada pessoa tem direito a ter as próprias, e ninguém tem nada com isso.
Foi contratado, todos, sejam cartolas, jornalistas ou torcedores, sabem disso e elas na prática não o impediram de montar fortes times.
Mais competente que os resultados
Faz mais de 10 anos que o elogio, como ele mesmo sabe, principalmente quando não tinha conseguido ganhar nenhum torneio relevante.
Recebia críticas muitas vezes desprovidas de embasamento técnico, pois quase nunca teve elenco para ser campeão.
Como conseguiu fazer algumas agremiações atuarem no limite de suas possibilidades, aumentou a expectativa da opinião pública e, na hora 'h', não havia qualidade para os momentos decisivos dos torneios.
A sorte, indispensável no futebol, não quis ficar com ele em alguns importantes jogos .
A semifinal da Libertadores pelo São Paulo, contra o Once Caldas, serve como exemplo. Lamentou muitas vezes nas entrevistas o gol do atleta pego no exame antidoping, em posição de impedimento, quando restavam os acréscimos para a série alternada de pênaltis.
Sabia que, apesar de ter o time com limites, poderia ter ido à fase seguinte e comemorado.
Merecida redenção no Horto
Como ninguém é azarado para sempre, nem sortudo toda hora, as bençãos divinas recaíram sobre ele no Galo, onde conquistou a Libertadores e encerrou a pecha de pé frio que alguns quiseram grudar nele.
Merece elogios pelos seu trabalho, mas não foi o melhor de todos que fez. O time investia muito de lançamentos longos pelo alto na transição de bola à frente, exatamente como o Palmeiras de Marcelo Oliveira, mas o time mostrou futebol elogiável. .
Jô, Bernard e Diego Tardelli no melhor momento de suas carreiras, Ronaldinho na única fase elogiável desde quando saiu do Barcelona e São Victor resolvendo as classificações que pareciam ruir, garantiram o troféu.
Tudo isso, obviamente, acompanhado das orientações e competência que Cuca mostrou nos clubes anteriores e onde não teve conquistas.
Os jogadores não corresponderam tanto apenas porque o treinador os posicionou e geriu tudo fora do campo com precisão. A diretoria e o imponderável do esporte, aquele que oscila picos de crueldade e generosidade, foram fundamentais
A maré dele, na função, teve o rumo alterado no estado que não é banhado por qualquer oceano, conseguiu o merecido reconhecimento.
Montador de times
Goiás, Botafogo, São Paulo e Fluminense foram outras agremiações onde realizou grandes trabalhos.
No centro-oeste, assumiu a equipe na lanterna do torneio de pontos corridos e a classificou à Copa Sul-americana.
No Morumbi, construiu o elenco e a estrutura coletiva que alicerçaram as maiores conquistas são-paulinas do século.
No Alvinegro, entre 'chororô' e demissões voluntárias – comuns na carreira dele e nem sempre aceitas -, uma delas concretizada e revogada após três jogos, mereceu aplausos pela estética e competitividade que os botafoguenses mostraram em campo.
Teve importância na reconstrução e aprimoramento de todos os elencos dessas agremiações.
Grande milagre no Rio de Janeiro
Nas Laranjeiras conseguiu rapidamente reorganizar o time.
O impressionante feito de impedir o rebaixamento do Fluminense em 2009, quando assumiu o cargo em 1° de setembro, foi o mais difícil de toda a carreira.
Mais difícil não significa o maior. Não se questiona que em BH, quando dirigiu o Atlético e não no período à frente do Cruzeiro, obteve o principal êxito como treinador. .
Não há como prever
Acertou os ponteiros do time do Fluminense rapidamente.
No Grêmio, aceitou desafio similar meia década antes, e não conseguiu.
No Galo, onde ganhou a Libertadores, não pontuou na primeira meia dúzia de jogos.
Qualquer afirmação sobre como será o desempenho dele na estreia é chute.
O melhor da atual gestão
De todos os treinadores que o atual presidente trouxe, Cuca é o mais competente.
Se fosse dirigente da agremiação e me apresentassem os nomes de Alex Stival, Oswaldo de Oliveira e Marcelo Oliveira como opções, eu nem pensaria antes de optar pelo último que Alexandre Mattos e Paulo Nobre contrataram.
O Alviverde, por isso, parece ter acertado na escolha,.
Seres humanos
Não afirmo com toda convicção que conseguirá aproveitar todo o potencial do elenco, porque não conseguiu em todos os clubes impor o que pretendia e aguardo para saber qual Cuca chega à agremiação.
Mais experiente, ganhador, endinheirado e tendo que lidar com sérios problemas de saúde dos familiares que ama, é preciso aguardar para saber.
Muitas pessoas, após atingirem o que sonharam durante mais de uma década e sofreram para conseguir, perdem a chama que os impulsionou. A noção de finitude, de morte de quem nos é indispensável, pode e deve alterar a forma como enxergamos a nossa passagem pelo planeta.
Pode ter se acomodado ou talvez agregado sabedoria, que é minha expectativa, para ser ainda melhor.
Não tenho como saber se o sucesso e as questões afetivas diminuíram a motivação e as reações passionais características dele, ou se o tornaram mais sereno, apto a lidar com a gestão de time de futebol, esporte do qual é conhecedor na prática, tal qual mostrou ao preparar estruturas de jogo elogiáveis em alguns clubes.
Agudo, não cerebral
Paciência e a manutenção de bola não fizeram parte das prioridades dos melhores times de Cuca.
Atuaram de maneira 'vertical', com movimentações inteligentes no sistema de criação e competência nos cruzamentos.
Jogada aérea forte é virtude, decide muitos jogos, mas não pode ser a única opção para quem conta com atletas rápidos e de qualidade para aumentar o repertório e a quantidade de oportunidades de gol.
Os treinadores, relembro, podem alterar os conceitos sobre o estilo de futebol que pretendem, implementar conceitos táticos que não haviam tentado, ter maior ou menor dificuldade de gerir o grupo de seres humanos, pois necessitam se manter atualizados.
A única convicção é que conhece futebol.O esporte não permite qualquer garantia que funcionará como a torcida quer, mas a chegada dele merece ser encarada com otimismo pelos que amam o Alviverde.