FBI força alterações no futebol
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De Vitor Birner
Gianni Infantino, o novo presidente da Fifa, sabe que precisa melhorar a imagem da instituição.
Não adianta mais assumir o cargo e ficar acima de tudo, tal qual seu antecessor, para se manter no poder e faturar com seu principal torneio realizado nas últimas edições em países marcados por problemas nas suas gestões públicas.
Tem que se mexer, e a inclusão da eletrônica no futebol, se considerarmos a política agressivamente comercial que a própria entidade implementou, deve ser avaliada como indispensável.
Minimizar a contradição
É incompreensível que o esporte capaz de movimentar bilhõe$ de reais, euros, libras… tenha os rumos dessa verba alterada por erros de quem deve cumprir as regras dentro do gramado.
Ou que tais equívocos sempre sejam realmente apenas pela dificuldade, que de fato é enorme, de três humanos encarregados de permitirem que apenas as ações e a sorte dos jogadores determinem os resultados.
Quem acha que as divisões do dinheiro pago pelas televisões devem ser embasadas nas colocações das equipes nos torneios, sabe o impacto do prejuízo financeiro que esses erros geram.
Além dos clubes, os atletas, que recebem prêmios de acordo com as conquistas, perdem tanto essa grana direita quanto outras, pois muitos que conseguem troféus faturaram mais no futuro, inclusive quando param de atuar.
Os patrocinadores preferem associar suas marcas às agremiações e personagens ganhadores. Não me recordo, agora, alguém que não tenha importantes resultados e fature com o que fez nos gramados. Alguns desses tiveram seus acertos distorcidos e esquecidos, pois a regra não foi colocada em prática.
Apenas outro instrumento de poder
A Fifa, para manter o controle e ascendência sobre tudo que interfere em questões políticas e econômicas, se recusava a implementar necessários avanças tecnológicos. Não havia motivo para abrir mão daquilo que fortalece a influência direita ou indireta de seus gestores.
Muitas vezes os dirigentes de clubes em nosso país citaram que não fizeram isso ou aquilo temendo retaliações. Deixaram, nas entrelinhas, nítida a preocupação com o cumprimento das regras nos gramados e algumas decisões nos TJDs e STJD, ambos ligados as suas respectivas federações.
As soluções não partiram do esporte
Após os norte-americanos interferirem na farra conveniente – se não fizessem isso, provavelmente Blatter, com todo seu discurso soberbo, medidas 'dinheiristas' ruins para o esporte e política ilimitada para manutenção de poder, continuaria forte -, o cartola que assumiu o principal cargo político futebolístico precisa fazer profundas alterações, nem que sejam apenas média com patrocinadores e torcedores.
Esses, ressalto, são tratados como consumidores que podem ser enrolados, ao invés de leais seguidores das agremiações.
Espero que isso seja alterado. É por causa deles que as marcas lotam os cofres dos clubes de grana. Se decidirem arrumar algo distinto para fazer na hora do futebol, os investidores irão junto.
Muito óbvio, simples, necessário, relevante
O auxílio da eletrônica para encerrar ou diminuir dúvidas em campo é algo extremamente lógico no atual cenário ultra-comercial do futebol. Tende a minimizar tanto a falta de credibilidade.
Tradições devem ser alteradas
Sou contra as touradas, rodeios, farras do boi e qualquer crueldade que machuca, provoca dor e pode matar os animais.
Alguns acham tudo isso normal, e argumentam que faz parte da cultura de seus países, por isso devem ser respeitadas.
Obviamente, se fizessem igual com quem amam, a opinião provavelmente teria outra referência, e consequentemente conclusão.
A humanidade, ainda primitiva e destrutiva ao lidar com a natureza, da qual somos todos parte e não donos, escravizou negros, criou guetos raciais, assassinou em nome de raça e religião e continua com suas convicções antropocentristas e pouco coletivas.
Não tem como a gente evoluir muito enquanto o perdão não prevalecer sobre a retaliação; o descarrego de raiva ganhar da tentativa de compreensão; a auto-crítica tomar goleada da arrogante iniciativa de julgar outros, inclusive quem sequer conhece; o 'eu' continuar sendo colocado acima do 'nós'.
O futebol tem, por refletir a sociedade, muitas mazelas que se tornaram normais.
Grande parte dos torcedores acha que existe manipulação de resultados. A generosidade de quem foi encarregado de cumprir as regras, com a bola rolando, quando atua equipe mais forte politicamente ou comercialmente, torna a desconfiança obrigatória
Isso é quase cultural no esporte mais popular do planeta. Supostamente houve irregularidades nas escolhas de sedes de Mundiais de seleções e nas eleições na instituição, alguns países que receberam o torneio tiveram muita sorte nos gramados, e as pessoas continuam adquirindo ingressos e camisas por preços cada vez maiores.
Pior é a argumentação que tais polêmicas são do futebol e ponto.
Debater sobre os lances realmente faz parte, a eletrônica não encerrará isso, mas a obrigação de quem administra o esporte como se fosse apenas negócio é criar condições para ter plena credibilidade, e não se abrigar sobre o teto do amadorismo que aumenta a força de gestores em detrimento de esforços e realizações nos gramados.
Razões de as agremiações existirem
A melhor maneira de solucionar os problemas do futebol é retirar 90% do dinheiro.
Os atletas ficariam mais nas agremiações, as relações entre ambos cresceriam na parte afetiva, pessoas de todas as camadas da população teriam acesso às arquibancadas, e parte dos que não largam seus cargos ou sempre querem retomá-los iria embora porque a grana que movimentam seria menor.
Mas isso, como sempre me falam, é utopia, pois lamentavelmente a lavagem cerebral do capital faz a sociedade crer que tudo precisa gerar o maior lucro possível para ser elogiável.
Se esqueceu que o dinheiro, em muitas atividades, é meio, não fim, e as equipes de futebol foram montadas para oferecer emoções, inclusive algumas ruins.
Mas, se a ideia é privilegiar sempre a questão comercial, que seja plena, sempre preservando a alma do esporte, mantida pelas reações espontâneas de torcedores.
Transforme todos os times em empresas, lidem com os devidos ônus e bônus disso, e tenham o discurso e a tributação alinhados com as principais metas.
Quero ver como será o vínculo dos torcedores com o clube quando notarem que o proprietário executivo – enxerga apenas como se fosse negócio rentável – preferir perder torneio para aumentar lucro, e se gerações futuras serão doutrinadas a amar marcas comerciais, ou se os consumidores e patrocinadores manterão investimentos em algo desprovido de credibilidade.
Para sorte de todos, o FBI, indiretamente, força os cartolas a implementarem a eletrônica para minimizar consideravelmente a desconfiança cultural que acompanha o futebol e a suposta manipulação de resultados.
Fundamental lembrar
Não resolve totalmente, pois quem pretende beneficiar qualquer time não precisa marcar, ou deixar de fazer isso, pênaltis ou impedimentos inexistentes.
Há mais formas de conduzir o jogo favoravelmente a quem, por qualquer razão, quis e conseguiu isso.