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Desculpismo, frescura e pouco futebol; times daqui têm que mudar o padrão

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De Vitor Birner

Merecida classificação

O Santos ofereceu a bola ao Barcelona. Apesar das ausências de Lucas Lima e Renato, tinha que impor o ritmo, ganhar o meio de campo e o jogo.

Os equatorianos mantiveram a proposta de futebol. Atuaram com sistema de marcação adiantado, forçaram a criação pelos lados, investiram nos cruzamentos e finalizações quando encontraram qualquer brecha, e tiveram no camisa 10 Díaz a referência capaz de coordenar os colegas dentro do gramado.

Foi uma inversão do que sugerem os elencos, a tradição e o estádio onde foi eliminado o favorito.

O Barcelona atuou como grande e mereceu a classificação.

Lembro que os atletas equatorianos, na viagem para o Brasil, tiveram logística semelhante a que gerou polêmica após reclamações dos atletas santistas no jogo de ida, alguns provavelmente não dormiram direito porque a torcida estourou rojões de madrugada no entorno do hotel, e ganharam na Vila Belmiro.

O desculpismo

A malandragem é o clichê que muitos utilizam sempre que algum time brasileiro é eliminado por oponentes da América do Sul.

Existe, mas nessa temporada é apenas uma desculpa.  Levir Culpi assumiu a responsabilidade pelo resultado, mas incluiu a tal da malandragem na lista citada durante a entrevista coletiva.  Os conselheiros reclamaram dos atletas.

O futebol em campo afirmou algo mais simples: o Barcelona foi melhor tecnicamente, taticamente, emocionalmente e por isso atuará na semifinal da Libertadores.

Teve equívoco tático do técnico do Santos ao inverter os lados de Bruno Henrique e Copete para o primeiro ser acionado na velocidade onde o lateral do oponente tinha o amarelo.

Avaliou que assim o gol seria criado, investiu no melhor de linha do time na temporada para resolver o jogo, poderia cavar a exclusão do pendurado,  abriu mão dele no sistema de marcação, ousou porque o amarelado constantemente apoiou, e naquele setor foi o cruzamento para o gol de Alves.

O artilheiro do jogo recebeu o amarelo ao tirar a camisa na comemoração e, no minuto seguinte, o vermelho, discutível, porque o árbitro interpretou que o centroavante acertou uma cotovelada.

Em suma, faltou malandragem para o jogador do Barcelona. O Santos foi incompetente para criar oportunidades e apenas duas vezes no cruzamento, ofereceu o momento de emoção ao torcedor.

Bruno Henrique cuspiu no Díaz quando o Santos necessitava do gol de empate.

Isso se chama egoísmo, dificuldade de priorizar o coletivo. Esse mimo tão tradicional entre os atletas do país não é falta de malandragem.  Há mais de um adjetivo para o destempero do atacante e a gentileza impede que seja citado.

A tradição

O Corinthians necessitava do gol no 'El Cilindro'. Foi quase nulo na criação e o Racing se classificou.

Os 'hermanos' mereceram a vaga. Após  1° t em Itaquera, em nenhum momento o time de Carille foi melhor.  As raras boas oportunidades ontem foram da agremiação que tem a 'hinchada' mais intensa, se considerarmos apenas as cinco avaliadas como grandes no país.

Em suma, segue no torneio quem mereceu pela dinâmica e  futebol.

O destempero tradicional dos atletas daqui entrou no gramado.

A merecida exclusão minutos após Rodriguinho ir ao gramado foi inútil, egoísta, desproporcional, pouco inteligente e prejudicial ao coletivo.

O atleta, depois do jogo, se desculpou com o elenco.

Uma dúvida

Bruno Henrique, Rodriguinho e lista impossível de ser lembrada em jogos de torneios continentais.

Me pergunto até quando atletas provenientes de 'nossa' cultura esportiva serão mentalmente goleados pelos 'hermanos'.  É um problema, ou melhor, dilema, pois os equívocos de ambos são tradicionais no futebol

Se a arbitragem fosse tendenciosa, permitisse apenas uma das agremiações em campo de bater, se adotasse critério dúbio ao determinar o que foi falta, haveria motivos para reclamações brasileiras.

Mas em Santos apenas o Barcelona pode chiar pelos cartões não mostradas quando o resultado era de empate.

Na eliminação do Corinthians, a arbitragem foi coerente ao permitir que os jogadores de ambos os clubes atuassem com intensidade e critérios iguais.

Completando a lista

Nessa temporada, o Defensa y Justicia foi melhor taticamente, deu o baile, e se classificou no Morumbi.

O time pequeno, com atletas menos competentes, se mostrou mais preparado 'de cabeça' e na parte coletiva. A Universidad Católica e o San Lorenzo ganharam do Flamengo quando receberam o clube da Gávea, porque foram mais eficazes mentalmente fortes especificamente naqueles jogos da Libertadores.

O clube de Aguirre, que a maioria dos brasileiros acha técnico incompetente, pode se classificar à semifinal do torneio, apesar do mediano elenco.

A exceção

O Botafogo contrariou a regra. Mostrou que o time brasileiro pode ser o mais raçudo, malandro, inteligente na parte tática e forte coletivamente.

Quem quiser pode aprender. Humildade e solidariedade dentro do elenco, e noção plena que a camisa é maior que o atleta são pilares para a competitividade que permitiram ao técnico capaz implementar a proposta de futebol.

Ao time, apesar da eliminação diante do Grêmio, tenho apenas elogios. Por detalhes que são do esporte parou diante do elenco melhor e merecedor de elogios.

Contrariando o padrão

O Grêmio é o único semifinalista brasileiro na Libertadores. Renato contrapõe os padrões dentro do país e o da própria agremiação.

Montou o time com repertório ofensivo mais amplo entre todos daqui. Quando necessário, conseguiu adaptar a proposta coletiva às necessidades nos gramados.

Os elencos de Palmeiras e do Flamengo ofereciam mais possibilidades para variações, alterações durante os jogos, além de reposições de atletas. Tem a oportunidade para igualar São Paulo e Santos em conquistas na  Libertadores.