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Do abismo à glória contra o Peñarol; Baptista merece críticas e elogios

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De Vitor Birner

Peñarol 2×3 Palmeiras

É possível afirmar que houve dois jogos e as escolhas de Eduardo Batista influenciaram muito no andamento. O Alviverde mereceu o resultado positivo. .

Necessita adquirir regularidade e manter o padrão mais elevado no mata-mata da Libertadores.

Tinha que manter

O Peñarol era lanterna do grupo. receberia o apoio da torcida e conseguira dois gols em cruzamentos, lance mais forte do gigante uruguaio,  no Allianz Parque.

Tinha que tomar a iniciativa e investir na maior virtude para ganhar.

Havia os antídotos no elenco do Alviverde.  O treinador podia preparar o time para manter a bola e tornar o andamento desconfortável ao oponente necessitado de impor o ritmo.

Tal proposta privilegiaria a técnica e permitiria a manutenção do 4-1-4-1 com o qual os atletas estão mais habituados na temporada.

O Eduardo Baptista foi por outro rumo. Abriu mão de jogador no meio campo para ter o quinteto dentro do qual havia o trio de zaga; quis ganhar força por cima e ofereceu a bola para os gringos porque pretendia investir na transição em velocidade à frente.  O Palmeiras criava no 3-4-3 e 'flutuava' ao 5-4-1 para o sistema de marcação.

A concepção de jogo taticamente moderna foi na prática conservadora e equivocada. Se investisse na ação ao invés da reação, tem elenco muito mais forte que o do oponente, teria a bola e ditaria o ritmo.

Os Aurinegros sequer poderiam cogitar igual.  Os limites do pé de obra impossibilitam ao Leonardo Ramos agregar maior repertório. Eduardo Baptista preferiu o bloqueio no campo de trás, e mais; foi a pior execução que me lembro de tal desenho tático.

Muitas lacunas na implementação da proposta 

O Peñarol tinha que investir nos lances pelos lados, onde é mais fácil tentar os cruzamentos.

O técnico do Palmeiras reforçou o sistema de marcação por cima com mais um zagueiro. O beabá do 4-5-1 com essa prioridade afirma que é imprescindível bloquear, no campo de trás, os setores em que os oponentes tentam acessar para levantar a bola na área. Apenas um dos lados foi eficaz.

O quarteto no meio de campo iniciou com Roger Guedes em frente ao lateral Jean, Michael Bastos diante de Egídio, além de Felipe M e Guerra por dentro. O leitor nem necessita assistir ao jogo para saber qual lado era o mais fácil para o oponente investir e conseguir o gol.

O Peñarol nada conseguiu…

Todos os lances, incluindo ambos os gols, começaram no de Egídio porque o atleta é mais capaz no apoio que atrás, e de Michel Bastos, menos participativo que o colega de clube da ala oposta ao recompor o sistema de marcação.

Teve outros equívocos, além desse que foi o maior. Apenas colocar os 3 zagueiros é pouco para garantir o aumento de força coletiva nos cruzamentos  O trio tem que se entender nos gramados.

E, finalmente, as poucas atividades antes do jogo para implementar as alterações recomendavam Tchê Tchê iniciar na vaga de Guerra. Entendo que o venezuelano é mais competente nos lançamentos e poderia acionar Borja ou Roger Guedes nos lances de velocidade. mas a dinâmica do volante para ir e vir é maior e facilitaria para Felipe M que foi sobrecarregado pelo monte de lacunas no planejamento.

Segue mais um item na lista.

Talvez pelo hábito de atuarem com o quarteto na linha de trás, reforçado porque o 4-1-4-1 é a referência tática na temporada,  ou porque nem os rodados se habituaram noutros clubes ao 5-4-1 com as alternâncias,  os atletas não entenderam o que Eduardo Baptista pretendia. Quem puder acompanhar o jogo saberá com facilidade.

Em muitos momentos, Roger Guedes, Guerra e Michel Bastos formaram o trio diante do Felipe M.  Era necessário jogarem na mesma linha do volante.

Formavam o 5-1-3- e facilitaram para o oponente ter a bola no entorno da área, porque impossibilitaram a tal da compactação em frente dos zagueiros e laterais, ,

Se pretendia o ferrolho, Eduardo Baptista tinha que orientar Borja a recuar para formar o quarteto onde havia o trio.

A orientação para o centroavante foi para atuar na linha dos zagueiros que pretendia driblar para finalizar.

O resultado do que não fluiu

Acrescento o sistema de marcação muito recuado à lista de equívocos iniciais na estratégia do Alviverde. Borja, adiantado, nem conseguia tocar na bola.

O artilheiro recebeu alguns lançamentos pelo alto, e saídos do campo de trás. A dupla da zaga e o volante Novick encaixotaram o centroavante.

No gol que inaugurou o resultado, houve o equívoco de Mina.  Se atirou na área ao ser puxado pelo Affonso, ao invés de correr atrás de quem formou a dupla de frente na agremiação que necessitava ganhar.

Nada houve no lance.

O zagueiro foi puxado para trás  e caiu na frente, Foi mole no lance que exigia força.

O outro gol foi de Arias, Houve a dúvida dos zagueiros para saberem quem deveria, após o cruzamento, ria acompanhar o atleta da assistência com a nuca e o artilheiro.

Alterações mexeram no andamento do clássico

Egídio e Vitor Hugo, lateral e zagueiro do mesmo lado, saíram. Tchê Tchê e Willian foram ao gramado,

O treinador fez o necessário na escalação, alterou a proposta coletiva, e o Palmeiras se impôs com facilidade.

Formou o quarteto atrás no qual o Michel Bastos foi lateral; o volante Felipe M atuou em frente,e  os que entraram foram para a linha de quatro do meio de campo onde fizeram as 'flutuações' táticas ao 4-4-2 e 4-3-3 e se se aproximaram do centroavante.

Completou os acertos ao adiantar o sistema de marcação para iniciar as tentativas de retomar a bola na área do Peñarol

Dali em diante o abismo técnico dos elencos foi aberto diante da barulhenta torcida. O Alviverde manteve a frequência no campo de frente, teve a iniciativa, ditou o ritmo, e conseguiu a virada na qual Willian brilhou.

O atleta conseguiu o gol aos 3, após assistência de Jean. O lateral fez mais uma no de Mina, que garantiu o empate.

A superioridade do Palmeiras era muito grande. O Aurinegro investia em lances de velocidade, pois o oponente mantinha a maioria dos atletas além da linha que divide o gramado, como única opção para finalizar e talvez diminuir o ritmo do vareio.  A virada parecia inevitável antes de Willian a confirmar e mais uma vez comemorar.

Depois o Alviverde recuou.

O mítico time do Uruguai foi para o tudo ou nada. Investiu no que podia – finalizações de fora da área e cruzamentos e o sistema de marcação do Eduardo Batista, com a dupla em vez do trio de zaga, ganhou as disputas e garantiu o resultado positivo à agremiação que encabeça o grupo das favoritas na Libertadores.

Elogio e peço licença 

Há esquemas táticos que aprecio menos ou mais. O inicial do Palmeiras é dos prediletos.

Sou técnico de um clube de várzea. O 4-1-4-1 foi a opção que avaliei ser necessária meia década atrás, como alternativa para a então moda de formação com dupla de volantes e trio no meio de campo.

O 3-4-3 a gente implementou faz alguns anos. Mudamos de sede, o campo maior dificultava a manutenção do que gerava resultados positivos, e agreguei no início do retrasado o 5-4-1 para aumentar a força ao sistema de marcação.

A variação acontece com laterais se adiantando à linha do meio de campo e a dos alas para a do centroavante.

Os jogadores são inteligentes, esforçados, sabem as próprias incumbências e as dos colegas de time, pois eventualmente  devem cobrir lacunas no sistema de marcação.

Há adaptações aos montes dentro da proposta, mas não as mencionarei no texto porque o aumentará muito e o leitor, em regra, acham que apenas os clubes e eventos na grande mídia resumem o futebol.

Citei isso para mostrar que critiquei o esquema de jogo que achoo elogiável, se executado direito e no jogo e time que a tornam ideal.

Nenhuma fórmula precisa há no esporte.

A proposta coletiva mais construtiva depende das lacunas e potencialidades do elenco.

Treinador merece paciência do torcedor

Eduardo Baptista se equivocou e após as alterações o Palmeiras foi forte coletivamente.  Na primeira parte houve tropeço de concepção e na seguinte desempenho competitivo gerado pelo que tem feito no CT da agremiação.

O torcedor pode escolher como interpretar a virada emocionante. Pode se concentrar no que o técnico tentou e soube que tinha de alterar, ou no que o Alviverde produziu após as mexidas, ou em ambos e aguardar para formar a opinião sobre o escolhido por Alexandre Mattos para o futebol.

Ficha do jogo

Peñarol (4-4-2) – Guruceaga; Petryk (Rossi), Quintana, Villalba e Hernández; Alex Silva (Ángel Rodríguez), Nandez, Novick (Dibble), Cristian Rodríguez; Junior Arias e Affonso
Técnico: Leonardo Ramos

Palmeiras (5-4-1) – Fernando Prass; Jean, Mina, Edu Dracena, Vitor Hugo e Egídio; Róger Guedes (Keno) Felipe M., Guerra e Michel Bastos; Borja
Técnico: Eduardo Baptista

Árbitro: Roddy Zambrano Olmedo (EQU) – Assistentes: Luis Vera e Juan Macías