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Fenômeno olímpico; festa combate os preconceitos e preconceituosos gostam

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De Vitor Birner

Para sonharmos acordados 

''Somos todos iguais'', afirmou Tomas Bach, secretário geral do Comitê Olímpico Internacional, durante a bonita cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos.

Questões como a inclusão dos deficientes, combate ao racismo, apoio a diversidade sexual, preocupação com a ecologia e solidariedade aos refugiados tornaram a festa mais rica de emoções e alegria. A simplicidade combinou com a cultura e estilo nacionais.

Nada de mostrar ao mundo o país que inexiste.  Os discurso de Carlos Arthur Nuzman em tom populista, forçado e carregado de clichês tornou ainda mais nítido como a banda toca na nação que, durante meia quinzena, concentrará parte da atenção de bilhões de cidadãos pelo planeta.

A colonia italiana deveria ter sido mencionada pela relevância em nossa população, a questão do preconceito de classe, dos maiores que há aqui, merecia entrar no pacote dos problemas sociais abordados na abertura, houve alguns equívocos, mas tanto o propagandismo do burocrata quanto a imprecisão em ter pauta plena dos temas são normais nesse tipo de evento.

A festa merece elogios. A maioria dos frequentadores das redes sociais aplaudiu, muitos, impulsionado pela emoção, citaram o sentimento de orgulho por serem brasileiros, pois naquelas horas pré-acendimento da tocha o país parecia preparado para ter a almejada paz e a harmonia coletiva.

Pensar, raciocinar, refletir, escolher, melhorar

Somos subdesenvolvidos socialmente. Uma nação ultra-corrupta, que elege, reelege e luta por corruptos.

Que carrega preconceitos raciais, de classes sociais, religiosos, de gênero sexual, além de ser machista.

Contraditoriamente, não gostamos de nada disso. A absoluta maioria da população quer o país muito melhor.

A dicotomia entre o anseio e a ação é enorme. Paralelamente a embriaguez ideológica pirotécnica e cultural da festa, algo acontecia nos hospitais públicos, nas ruas e onde mais há famintos, necessitados de teto e agasalhos, e no restante das florestas continuamente desmatadas.

Destruímos a natureza, a qual pertencemos 

Os governos incompetentes e nada confiáveis nem tudo podem resolver. A população pode contribuir.

Em vez de sujar as calçadas, jogue o lixo no cesto Se possível, recicle. Há maneiras simples e diretas para beneficiar a ecologia.

Economizar água, plantar uma árvore e ser crítica com o sórdido e asqueroso holocausto animal promovido pela indústria que enriquece negociando dejetos de animais, satisfazendo o paladar desenvolvido pelo homem de neandertal em troca das dores dos sencientes, é indispensável.

Crer que haverá a paz em meio aos acostumados com sangue e indústrias de armas é como acender palito de fósforo e jogar no mar esperando que toda a água evapore.

Inteligência superior e poder deveriam servir para proteger, não explorar os menos capazes. Quem crê que o mais forte deve prevalecer, a primitiva lei da selva, tem que ficar em silêncio quando o Estado,  criação humana para supostamente simplificar a existência da espécie, explora, oprime a população e oferece regalias aos governantes.

O preconceito tem cor branca

O racismo é endêmico. Foi cristalizado na sociedade de maneiras que muitos sequer notam.

Colegas, nas transmissões do evento, acertaram ao ressaltar a necessidade de encerrar o preconceito. Argumentaria exatamente como fizeram, o que não nos impede de notar que raramente há negros apresentando os programas.

Garanto, não é por falta de capacidade. As escolas particulares são em regra melhores que as públicas e têm alunos predominantemente caucasianos. A profissão exige a formação específica.

Essa distorção foi criada pela própria sociedade.  Além disso, há o padrão estético e comercial que predomina. Lembro que os maiores tiranos da história moderna, como Hitler e Stalin, eram brancos.

O problema é muito maior que a quantidade pequena de negros em altos cargos de empresas. Qualquer distinção feita por alguém com raciocínio embasado na cor do semelhante ao entrar em algum local,  dirigir o carro, paquerar a parente e tudo mais nessa linha é racismo, inclusive se quem não os enxerga como iguais quiser a felicidade de ambos.

Somos todos iguais

Com homossexuais o raciocínio é idêntico. Sofrem, hoje, provavelmente mais que todos os grupos de excluídos.

Os refugiados, merecedores de apoio, foram aplaudidos, mas quando o nordestino é obrigado a largar a família para ganhar merreca de salário com enorme esforço nos estados mais ricos, é criticado por muitos nascidos nas regiões sul e sudeste.

De São Paulo para os lados e abaixo no mapa, a população deveria agradecer pelo sacrifício dos compatriotas. Pertencem a mesma nação e é o fim do mundo alguém ser forçado a sair de onde ama para tentar subsistir.

Os cadeirantes e outros portadores de necessidades especiais são minorias que fazem rali quarteirão após quarteirão.

Idas ao supermercado, banca, farmácia, simples para a maioria, são muito mais difíceis porque falta estrutura básica nas cidades.

Fundamental: têm o direito ao lazer, o que exige melhora e mais adaptações no transporte público

Eles 'devem' gastar; elas economizar 

O machismo é cultural. O homem que tem muitas amantes ganha status, e a mulher que faz igual é chamada de puta pelos fiscais das genitálias alheias e criadores de éticas específicas para pênis e vaginas.

Dinheiro secundário 

A hora de existência que o pobre dedicou para ganhar a remuneração tem os mesmos minutos e segundos que a do rico na labuta com intuito de engordar a conta bancária.

A quantia que recebem é muito distinta por padrões determinados pela sociedade materialista, mas do ponto de vista do respeito que merecem, sejam office-boys, garis, empresários ou jogadores de futebol, é idêntica.

Individual

Todas essas mazelas têm como ferramenta o direito que o indivíduo se oferece de julgar os outros, sejam estranhos ou conhecidos. Faz como raciocínio reflexo. Sequer pensa muito.

Quando isso for alterado e o primeiro pensamento for no sentido de compreender e ser indulgente, de exercitar o perdão, os vigentes entraves para a harmonia coletiva serão apenas textos que mostrarão como a humanidade era primitiva e destrutiva, e haverá naturalmente solidariedade e paz.

Garanto, nenhum saque, ipon, salto, corrida, arremesso e nado tirará os obstáculos sociais das mentes conservadoras.

Muito exercício diário,  de ética e não físico, por prazos maiores que os de preparação de atletas para os Jogos, são fundamentais e não dependem de governo ou dinheiro. O abandono do egoísmo é iniciativa pessoal.

O espetáculo

Excelente Olimpíada a todos! Apesar de ser feita onde havia outras prioridades – se a população tivesse maior preocupação coletiva o dinheiro público seria gasto em urgências e o país-sede outro – é a maior festa que existe do esporte.

Algo, para quem ama os Jogos, realmente único e inigualável.

In memorian

O assassinato da Juma, a onça, durante o caminho da tocha olímpica, foi mais uma aberração do antropocentrismo.

O homem urbano, se quiser ficar próximo da natureza, deve saciar a curiosidade e ir à floresta, em vez de trazer o ser que teve quase todo habitat extinto em nome do progresso que hoje exige mais matas e preservação de todas as espécies criadas por Deus.