Blog do Birner

Diego não tinha mercado onde queria, mas deve agregar qualidade ao Flamengo

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De Vitor Birner

O raciocínio capitalista

Atualmente, notícias sobre as contratações rendem mais audiência que as de conquistas de torneios.

Na sociedade em que adquirir e ter é mais importante que desfrutar, curtir, a contradição é plenamente lógica.

Há quem em algum momento se esqueceu que a agremiação busca atletas para ficar mais fortes e conseguir resultados melhores dentro dos gramado, não para ter o personagem no time. É como o profissional de qualquer área que necessita dinheiro para gastar e ter conforto, e não com intuito de acumular e ficar observando o saldo na conta bancária aumentar.

O meio não deve ser o fim e nem o fim ser o meio.

O constante estímulo para adquirir e ter,  após conseguir o de escolher outra meta material, e repetir durante a existência criando o ciclo infindável que impede a felicidade, essa é estado de espírito que se encontra no desfrutar, contaminou o futebol.

Então, nas janelas de transferências, o inconsciente coletivo sempre quer mais jogadores, principalmente os de nome e com grife.

O novo reforço do Flamengo

Diego se enquadra nesse perfil. Despontou como craque e não confirmou isso na Europa.

No Werder Bremen e no Wolfsburg brilhou, teve momentos elogiáveis na primeira vez que atuou pelo Atlético de Madri, e chega ao Flamengo porque no Fenerbahce não reeditou o melhor futebol. Por isso fechou o mercado em ligas grandes e medianas do continente rico.

A escolha pela agremiação da Gávea foi embasada em questões esportivas e financeiras. É profissional, nunca torceu pelo Rubro-Negro, e quis atuar onde ganhará o melhor salário possível e avalia ter condições de se preparar para elevar o padrão dentro dos gramados.

Isso pode fazer Diego feliz.

Insatisfação com o desempenho do meia

A torcida do Fenerbahce, das mais fanáticas no planeta, que tem Lugano como ídolo e em Alex o 'semi-deus' do futebol, não gostou do rendimento do jogador.

Os flamenguistas, se o atleta mantiver o nível técnico. terão igual opinião.

Nos 34 jogos do torneio de pontos corridos na Turquia, Diego ficou disponível em 30 para ser escalado. Iniciou em 19  e foi substituído 9 vezes.  Noutros 11 o treinador o deixou na reserva e apenas em 2 desses não o colocou no gramado.

Foram muitas as oportunidades e pouco o que o jogador fez.

Nessas 28 atuações conseguiu dois gols, cinco assistências, o time foi vice-campeão, e o Besiktas comemorou a conquista do torneio.

Atuou em ambos os jogos contra o Shakthar Donetsk na Liga dos Campeões, que valiam a classificação para a fase de grupos, como meia atacante num e  ala na esquerda em outro.

O time foi eliminado após o empate por 0x0 e o tropeço por 0x3 diante de Marlos, Taison e Fred. que jogaram pela agremiação classificada para a chave de PSG, Real Madrid e Malmo da Suécia.

Nenhum desses que seguiram no torneio gerariam tanta mídia quanto o escolhido pela direção do Flamengo para investir milhões e ser a referência no meio de campo.

Nos demais torneios o desempenho foi similar.

Em oito apresentações na Liga Europa não fez gol ou assistência e recebeu suspensão de três jogos após a expulsão contra o Celtic de Glasgow; Na Copa do Turquia consegui o gol e fez número igual de assistência em 7 jogos.

Como não teve desempenho considerado elogiável pela comissão técnica, foi mantido no banco durante a final contra o Galatassaray e terminou como vice no torneio.

O clube decidiu, após avaliar como fraco o rendimento do atleta nessa temporada e no máximo achar mediano o da anterior, rescindir o contrato para facilitar que fosse embora.

Não tinha convencido, antes, quando foi emprestado pelo Wolfsburg ao Atlético de Madri de Simeone, onde não se firmou entre os principais atletas.

Os alemães não queriam mais o meia. Por isso, assim que o vice na Liga dos Campeões não quis investir no meia, , arrumaram a agremiação que facilitou a saída para a Gávea.

A última temporada elogiável do atleta foi em 2012, no Wolfsburg, onde marcou 10 gols e fez meia dúzia de assistências em 32 jogos.

Em clubes de porte mediano conseguiu brilhar

Após jogar em alto nível no clube da Vila Belmiro, o Porto decidiu contratar o meia. Ficou 3 temporadas na cidade ao norte do país e não se firmou como grande jogador.  Em 2006 os portugueses negociaram o meia por 6 milhões euros ao Werder Bremen.

Na Bundesliga conseguiu os melhores desempenhos da carreira no futebol do continente. Em 2009, a Juventus investiu quase 25 milhões de Euros para ter Diego no elenco.

O negociou após um ano ao Wolfsburg por 15 milhões (60% do valor que pagou) de euros. De novo na Bundesliga o jogador conseguiu números elogiáveis, mas foi emprestado duas vezes ao Atlético de Madri, onde ganhou a Liga Europa, na outra como reserva o torneio nacional, e não se firmou.

Investimento e futebol

Diego teve declínio técnico e mesmo assim deve agregar qualidade ao Flamengo, pois a referência para avaliar como pode contribuir é o padrão dos concorrentes em nosso futebol.

A questão é quanto a direção do clube investiu. Os dirigentes do país supervalorizam tais jogadores porque creem haver concorrência externa quando no máximo há, se considerarmos em quais nações aceitam morar, a de quem se comunica em português na América do Sul.

Parte dos cartolas nas agremiações daqui é como o das nações árabes, apesar de os estádios dos sheiks ficarem vazios e os petrodólares nas mãos de poucos sustentarem os times, nos critérios de escolha e gasto em veteranos reforços para os elencos

Mais qualidade que a maioria

Duvido que o Flamengo fez o necessário antes de trazer o meia. O ideal seria qualquer funcionário competente assistir aos jogos do time em que atuou.

Os números nas duas últimas temporadas obviamente não recomendam o investimento. Nem assim creio que a agremiação contratou jogador comum. Era acima da média, o padrão de qualidade caiu, mas as virtudes na criação e finalizações devem continuar maiores que as dos atletas que exercem a mesma função noutras agremiações.

Observar, aplaudir

Ser recebido com festa na agremiação onde nunca atuou, após fechar portas nos principais mercados, deve ser algo incrível para qualquer jogador. É como se o mundo girasse para trás e o futebol de outrora renascesse nos pés de quem foi cobiçado pelas agremiações mais ricas do planeta.

A torcida deve apoiar qualquer atleta e observar se, quando entra no gramado, há a reciprocidade que se chama empenho.