Ora pois: Cristiano saiu e Portugal conseguiu façanha de ganhar a Euro
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De Vitor Birner
Portugal 1×0 França
A conquista foi redentora, cheia de contradições e merecida.
Todos, inclusive os campeões, sabem que não o time tem o melhor elenco do continente e nem mostrou na parte técnica o grande futebol.
Isso é irrelevante. Ganhar com jogadores de menor qualidade torna ainda mais especial o êxito. É mostra de esforço, de futebol que se joga com inteligência e alma.
Simboliza a força coletiva que muitos afirmam querer e poucos se dispõe a fazer o necessário para ser implementada.
Não há o jogador da campanha. Todos devem ser reverenciados, pois contribuíram para os obstáculos serem ultrapassados, inclusive o Éder que, na prorrogação, tirou o coelho da cartola e proporcionou o lance mais feliz da história para todos os portugueses que amam o futebol.
De Viana do Castelo ao Faro, em Paris e em diversos cantos do planeta, a nação lusitana festeja.
A gradativa melhora
Não conseguiu ganhar na fase de grupos, apesar de ser o segundo mais fraco do torneio.
Foram 3 empates e a classificação em terceiro porque o critério era o saldo de gols. Se fosse o número de vitórias, teria sido eliminado e ninguém questionaria a falta de méritos para seguir no torneio.
Depois foram duas prorrogações. Diante da Croácia, quando conseguiu ganhar, e da Polônia que superou na série alternada dos pênaltis.
Os países que saíram tinham mostrado nos jogos anteriores futebol melhor que o da seleção capaz de obter a façanha de chegar à semifinal.
Contra País de Gales conseguiu a atuação mais convincente. Obteve o resultado favorável, o único em toda a campanha, no tempo regulamentar. Nos outros jogos necessitou mais que os 95 minutos.
Hoje comemora a conquista que, provavelmente, nem os próprio elenco de Fernando Santos imaginou ser possível. Foi consistente e teve sistema de marcação forte no mata-mata contra os favoritos.
Por mares desconhecidos à conquista
O andamento foi contraditório tal qual a campanha para chegar à final. Cristiano Ronaldo se machucou no início do jogo e pouco permaneceu no gramado.
Não por questões técnicas ou táticas, quando saiu a zebra campeã equilibrou. O oponente havia planejado a marcação na frente apenas por alguns minutos e essa era a base da intensidade que impuseram em busca do gol.
Se obtivessem êxito, provavelmente o ambiente nas arquibancadas do estádio em Sant-Dennis ficaria muito positivo, a proposta implementada por Fernando Santos seria alterada para o time ir à frente, e haveria as brechas para os lances em velocidade, fundamentais na semifinal.
Os franceses tiveram apenas duas grandes oportunidades para comemorar.
Griezmann de cabeça desperdiçou, e Gignac, nos acréscimos antes da prorrogação, driblou Pepe na área, finalizou e acertou a trave.
Na meia hora seguinte, quaisquer favoritismo e zebra acabaram. As partes física e mental sobrepujaram a técnica.
Portugal, lembro, havia feito estagio na tensão durante a campanha cheia de classificações em condições similares as da última meia hora do torneio. Aprovado, se mostrou mais bem preparado para ao menos manter o empate com facilidade.
Como o assunto é futebol, havia outro capítulo.
O mais relevante que a nação viveu desde quando alguém chutou a bola nas terras ibéricas no extremo ocidente do continente
O Grumete que guiou a caravela
Éder, centroavante que não conseguiu marcar gols pelo Swansea na Premier League e o Lille contratou em fevereiro, fez o lance de pivô e de fora da área quando restavam 10 minutos para encerrar a Euro, e acertou chute preciso no canto direito de Lloris.
Entrou para a história como o protagonista do lance mais importante, aquele que os torcedores nunca irão esquecer, no futebol da nação de Eusébio, Figo e Cristiano Ronaldo. Não é ídolo de grandes clubes.
Éderzito Antonio Macedo Lopes iniciou a carreira na Acadêmica de Coimbra, agremiação mais antiga do país. Atuou no minúsculo Tourizense antes de se transferir ao Braga. Nunca trajou o manto de Porto, Sporting ou Benfica, e tampouco de qualquer time desse porte noutras terras.
Tem 28 anos e será tão aplaudido pelos torcedores quanto citado em qualquer publicação que reverencia a maior conquista portuguesa no esporte.
Reforçou contradições que o futebol ama. O time ganhou com o pior elenco que teve nas últimas edições.
Portugal vinha tateando a conquista
Na devida ordem regressiva, eis as eliminações desde a anterior.
Na semifinal contra a Espanha, nos pênaltis, em Donetsk (Ucrânia); nas quartas de final diante da Alemanha por 3×2 em Basel (Suíça);
Contra Grécia, quando seria campeã em Lisboa, frente à França, então campeã do mundo na semifinal do torneio em Bruxelas (Bélgica), com Zidane acertando o pênalti quando restavam 2 minutos para o encerramento da prorrogação (resultado 2×1).
E nas quartas de final contra a República Tcheca Birmingham por 1×0.
Foram exatas duas décadas de eliminações, sempre por muito pouco, antes de chegar ao ápice. Mereceu, pois não houve equívocos na imposição de regras na final diante dos franceses.
A imprevisível Eurocopa
Se alguém discorda, informo que Portugal completa a dezena de campeões em em 14 edições.
Espanha e Alemanha são tri, e França tem o par de conquistas.
Holanda, Itália, União Soviética, Tchecoslováquia, Dinamarca e Grécia ganharam em uma oportunidade o torneio.
Compare ao maior torneio do planeta que a Fifa promove;
Em duas dezenas de edições, apenas cinco nações da Europa conseguiram o troféu.
Além dessas, Uruguai, Argentina e o Brasil comemoram. São oito ao todo.
Alguns pitacos sobre o jogo
A França, tal qual fez na semifinal, iniciou com sistema de marcação adiantado. Forçou Portugal a investir nos lançamentos pelo alto para fazer a transição à frente.
Durante 10 minutos, talvez alguns mais, a proposta e a superioridade foram mantidas.
Não havia como insistir. O torneio acontece nas 'férias' dos jogadores, parte encerrou a temporada em condição física abaixo da possível e necessitando repouso para os músculos e a cabeça, pois além de correria o futebol exige muita concentração e a constante capacidade mental de gerir os gritos de milhões pela obrigação de conseguir resultados.
A ideia de manter o sistema de marcação na área do oponente seria viável com melhor estágio de preparação dos jogadores.
Gajo saiu
Cristiano Ronaldo é do tipo fominha. Não gosta de ser poupado.
Iniciou 48 jogos da temporada no Madrid e em nenhum foi substituído. Se machucou em abril, teve problema muscular, não entrou no gramado em duas oportunidades no campeonato do país e quando o time foi à Manchester para a semifinal do torneio mais almejado por agremiações da Europa. Depois atuou com dores e possibilidades maiores de sentir algo que o fizesse perder a fase mais importante na temporada.
Mas conseguiu jogar a final da Liga dos Campeões, comemorou a conquista, e se apresentou à seleção mediana para a disputa da Euro. É e principal estrela e o maior jogador do continente.
Executou função distinta da que faz na agremiação.
Atuou pouco mais longe do gol para fortalecer a criação. Tinha que finalizar de fora da área e, como o time de Fernando Santos foi o que mais investiu em cruzamentos, entrar e tentar o cabeceio.
O choque com Payet o tirou do jogo em que podia brilhar. Coincidentemente, Portugal melhorou após a estrela sair, mas porque a França cansou e teve que recuar o sistema de marcação.
O andamento mais que óbvio
A França teve inciativa, mas teve dificuldade para criar as oportunidades.
Portugal se fechou e investiu em contra-ataques e cruzamentos. Tocou a bola atrás da linha que divide o gramado, pois queria encerrar o ímpeto de quem tinha a maioria dos torcedores no estádio em Saint Denis.
Além disso, podia criar brechas entre os zagueiros e goleiro oponentes para investir em lances de velocidade Como os sistemas de marcação prevaleceram, houve poucas oportunidades.
As duas que merecem a menção foram as de Griezmann pelo alto e do Gignac que acertou a trave.
Prorrogação
O futebol francês foi piorando na medida em que o o tempo diminuía. O time português, ao contrário, ganhou estabilidade e confiança.
Raphael Guerreiro acertou a trave em falta inexistente. Havia mais brechas para os jogadores de Fernando Santos finalizarem na prorrogação. O favorito não teve força para manter o padrão.
Isso ficou óbvio após o gol do Éder. Com a maioria do público favorável no estádio, ao menos podia fazer o 'abafa' e criar alguma oportunidade. Não exigiu nenhuma difícil intervenção do goleiro.
Ficha do jogo
Portugal – Rui Patricio; Cédric Soares, Pepe, Fonte e Raphaël Guerreiro; William Carvalho, Renato Sanches (Éder), Adrien Silva (Joao Moutinho) e João Mário; Cristiano Ronaldo (Ricarido Quaresma) e Nani
Técnico: Fernando Santos
França – Lloris; Sagna, Koscielny, Umtiti e Evra; Matuidi e Pogba; Sissoko (Martial), Griezmann e Payet (Coman); Giroud (Gignac) Técnico: Didier Deschamps
Árbitro: Mark Clattenburg (Ing) – Auxiliares: Simon Beck e Jake Collin