Blog do Birner

Gabriel tem que melhorar na parte tática; Santos mima muito o jogador

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De Vitor Birner

Não questiono a qualidade de Gabriel, o atacante santista, quando tem a bola. A questão é o que muitas vezes não faz na marcação.

Se tal postura indolente é orientação de Dorival o orienta a participar pouco, ou se o atleta revelado nas categorias de base do clube simplesmente não cumpre o que o treinador quer. Isso é recorrente e, na Vila Belmiro, escutou apupos dos torcedores em alguns momentos.

A omissão, ou instrução do técnico, rendeu oportunidades, por exemplo para o Audax na final do Estadual.

Houve perda de pontos do time no torneio de pontos corridos porque foi mole ou omisso ao recompor o sistema de marcação.

Não à toa, o lado direito do sistema de marcação santista é muito mais vulnerável que o outro. Os oponentes fazem triangulações naquele setor porque muitas vezes têm mais jogadores que os santistas. O volante Renato, o lateral Victor Ferraz e o zagueiro que atuam na direita ficam sobrecarregados na marcação.

Eis o exemplo

Contra o Grêmio, por exemplo,  todos os gols que tomou aconteceram naquela região do gramado. Foram três e poderiam ser mais dois, se Vanderlei não conseguisse as difíceis intervenções.

É questão simples, de matemática, que obviamente Dorival tem todo o conhecimento.

O oponente tentou criar os lances com Everton – atuou no meio dos lados do ataque –  Luan, falso centroavante que se deslocou para o setor, Wallace ou Jailson, pois sempre havia o volante na função de meia, e o lateral Marcelo Oliveira.

O Santos marcou com Renato, Victor Ferraz e o zagueiro Luiz Felipe. Os gremistas tiveram, em alguns momentos, mais jogadores para conseguirem as oportunidades, do que o Santos disponibilizou para bloquear a construção dos gols.

Rapidamente o Grêmio criou as oportunidades para fazer gols.

Lucas Lima,por isso,  muitas vezes se deslocou para a direita na tentativa de fortalecer o sistema de marcação, era a necessidade embasada no andamento do jogo, mas nem sempre conseguiu ser eficaz.

A proposta coletiva do Santos

Quando o oponente consegue ter a bola no campo de frente, Dorival posiciona o quarteto com laterais e zagueiros, outro no meio de campo, e mantém o centroavante e mais alguém adiantados.

Se o lance acontece do lado esquerdo no sistema de marcação do Alvinegro, Vitor Bueno recua e compõe o quarteto no meio de campo com Tiago Maia, Renato e Lucas Lima.

O mesmo vale para o canto oposto, o de Gabriel, se o lance for do lado oposto, mas nem sempre Gabriel mostra os mesmos ímpeto e disponibilidade para fortalecer o sistema de marcação.

Aos puristas, sonhadores, utopistas e outros mais que creem no ataque como essência única do futebol, lembro que, para ter a iniciativa, é fundamental ter a bola antes.

O Barcelona, por exemplo, marca forte no campo de frente. A filosofia de jogo implementada com precisão por Guardiola e mantida com algumas alterações pelos sucessores, exige que o time impeça quem enfrenta de  ultrapassar a linha do meio do gramado tocando e tabelando.

Isso é, essencialmente, a base da proposta coletiva da agremiação.

A fórmula do melhor futebol do planeta tem sistema de marcação adiantado, qualidade no passe e nas movimentações, pois tudo facilita para os mais habilidosos brilharem. O sistema de jogo favorece Neymar, Suárez e Messi.

Nem adianta pedir para os times daqui adotarem postura idêntica, pois o calendário não permite aos atletas a manutenção da forma física necessária para cumprirem regularmente a proposta coletiva.

Quem pretende atuar com o sistema de marcação adiantado e não consegue ser competente abre enormes lacunas para tomar os gols.

O banho de humildade na Europa

Curiosamente, os jogadores mais habilidosos daqui, entre os quais Gabriel faz parte, quando atuam em times do exterior se mostram muitos mais disponíveis para o aprendizado e execução das questões táticas.

Saem em alta, paparicados, valorizados, e chegam ao continente rico para serem cobrados, além de aprendizes no futebol.

Como se fossem estagiários promissores ou alunos que como mágica adquiriram disciplina, esforço e mais virtudes durante o voo, pois antes podiam se acomodar, fazer mais o que gostam e contribuir menos do que sugere o potencial que têm de futebol.

Gabriel tem esse perfil.

Inclusive porque, se não priorizar o coletivo em qualquer agremiação grande que paga em euros ou libras, além de escutar bronca de técnico, imprensa e torcida, o máximo que conseguirá será manter o banco quente.

Em nosso país,  onde os cartolas mantêm o pires na mão em busca de dinheiro e de qualidade, terá as regalias que irão evaporar assim que assinar o contrato.

Quase sempre no destro

Observe os gols gremistas, todos do lado de Gabriel

No primeiro, demorou para chegar no atleta que dribla, quando conseguiu foi mole, foi chamado 'Migué',  e o lateral-direito santista não teve como marcar.

No outro, sequer é possível achar na imagem o atleta revelado nas categorias de base. No último, após o time conseguir empate heroico, houve equívoco de Lucas Lima na saída de jogo, e o atacante preferiu ficar na frente ao invés de correr e o lateral gremista festejou.

Era difícil nesse fazer a recomposição tal qual necessário

Mas houve, além dos gols, outros lances no setor, e em nenhum Gabriel tem papel eficaz no preenchimento de lacunas ou na marcação específica de qualquer jogador.

Questionamento sobre qual é a melhor função

O treinador poderia solucionar os dilemas táticos gerados pela pouca participação de Gabriel na marcação, se colocasse o jogador como centroavante.

Como tem Ricardo Oliveira, tal escolha representaria perda de talento e de experiência na posição, em especial nas finalizações.

Dorival poderia, se quisesse privilegiar o atacante em evolução, mexer no esquema que mais vezes opta. Teria que implementar algumas alterações nas movimentações dos jogadores e talvez na escalação.

O 4-4-2 seria ideal porque Gabriel é atacante que atua em ambos os lados ou centroavante que se mexe pelo gramado.

Diminuiria muito as incumbências do jogador no sistema de marcação. O técnico obviamente tem noção de tudo (não falamos, mas é competente), provavelmente avalia que a proposta coletiva atual é a melhor para o elenco render o melhor futebol,

Além disso, tem que cogitar como será o time quando não tiver mais o jogador. Ter alguém capaz para a função que hoje cabe ao que pretende brilhar em torneio de ponta noutro país e na Liga dos Campeões.