Blog do Birner

Tite necessita ajustar a metodologia; a do clube não funciona em seleção

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De Vitor Birner

Dinâmica em agremiações

O elenco do Alvinegro, tal qual o de todos os times da elite do futebol nacional, tem jogadores que sonham com o glamour dos grandes clubes europeus,  além,dos que gostariam da transferência ao mercado asiático para engordarem o pé de meia.

A minoria satisfeita e feliz, se conseguir encerrar a carreira no Parque São Jorge, completa o grupo de atletas.

Menos tempo e mais exigência

Na seleção o padrão é outro; Renomadas estrelas de países do exterior são chamadas, o que incomoda os dirigentes do time estrangeiro que investiu fortuna no profissional, e o treinador por não poder preparar o atleta porque foi atuar em amistoso muitas vezes inútil na parte esportiva

A ida ao time da CBF é esporádica e muitas vezes serve apenas para engordar o caixa da entidade. Em suma, é doação de pé de obra, serviço gratuito e pode ser dispensado pelo treinador remunerado.

O atleta sábio é capaz de avaliar e prioriza o que garante o sustento, o melhor ambiente diário possível para mostrar o futebol que paga as contas.  Na entidade que administra o time formado por funcionários dos outros, sequer há garantia de serem convocados nos raros momentos relevantes.

Podem ficar fora do sonho de atuar no Mundial porque se machucaram e caíram de rendimento no mês anterior.

Ninguém, em meio a tantos euros, dólares, salários anuais do tamanho de consideráveis prêmios em loterias, prioriza um mês em quatro temporadas.

Tite necessita gerir o elenco sob condição distinta da que vivenciou nos clubes. Terá de ajustar, ou talvez alterar a metodologia .

Em qualquer agremiação gigante como a que ofereceu oportunidade para se consagrar, o técnico pode conviver muito com os jogadores. Isso facilita que compreendam o planejamento, fortaleçam o vínculo com os colegas e talvez torcedores, e se comprometam com os resultados.

Os entreveros que aconteceram no Corinthians eram solucionados rapidamente. O treinador conhecia os jogadores e sabia como se comunicar para ser ouvido.

Não pode fazer isso de maneira idêntica com todos.

A capacidade de compreensão é individual, e o diálogo pontual necessário para direcionar todos ao fortalecimento do coletivo.

Na seleção é complicado obter tal coesão. Se Neymar e Douglas Costa têm divergência [não existe, o exemplo é fictício] e isso faz a equipe render menos na eliminatória, logo após o jogo o mais habilidoso viaja à Barcelona e o colega à Munique.

O ideal seria colocar ambos na sala e com bate-papo e encerrar o entrevero para jogarem melhor futebol, mas não há como o técnico fazer isso exatamente quando o treinador avaliar ser melhor.

Outro aspecto. A possibilidade de o atleta de ponta na Europa ter ego inflado e menor margem para abrir mão de si em prol do time, é maior. Pode, eventualmente ter algum que não queria escutar as ideias de futebol de quem não faz parte do 'mundo Champions League'.

Por isso, o comprometimento gerado pela construção do vínculo, citado em inúmeras entrevistas de Tite para embasar os resultados positivos no clube,  é mais difícil na atual missão do técnico.

Assim como explicar a tática, esclarecer o necessário para funcionar,  preparar a equipe com pequenos períodos de treinamento e tantas outras questões distintas das que acostumou a gerenciar nos clubes.

O elenco com maior qualidade motivou

Não há dúvida que aceitou o maior desafio da carreira.  Fez isso por saber que terá jogadores para conseguir os resultados positivos.

As questões dentro dos gramados

Conhecido por organizar os times de trás para frente, o perfil do técnico é distinto do que milhares de torcedores querem na seleção, pois tende a ser mais precavido e menos ousado, apenas enquanto não houver o pleno entrosamento do time.

Reitero o que escrevi quando parte dos alvinegros reclamava dos poucos gols. Tite não é retranqueiro. Agrega virtudes ao sistema de criação na medida em que o de marcação ganha solidez.

http://blogdobirner.virgula.uol.com.br/2014/12/11/tite-nao-e-retranqueiro-torcedor-deve-cobrar-da-diretoria-as-contratacoes-para-o-tecnico-jogar-de-maneira-mais-ofensiva/

A ideia é montar time equilibrado.

Merece paciência dos torcedores. No clube são meses com os atletas diariamente disponíveis para organizar o sistema de jogo. Por outro lado, quem atua em agremiações da Europa normalmente adquiriu inteligência e leitura de futebol.

Fundamental para facilitar

Se conseguir criar o comprometimento, não o piegas e protocolar, mas o emocional que transborda do gramado para as arquibancadas, o time deve ter enorme melhora.

Dunga e Jorginho conseguiram na primeira vez que foram à seleção.  Aos maniqueístas aviso que mais difícil não significa inviável, impossível.

Não pode aceitar ingerências. Tem que recusar amistosos inúteis na parte esportiva, necessita observar o calendário interno para não atrapalhar os clubes e ganhar o respeito dos torcedores.  Se pensar no futebol além das questões do cargo, será mais simples obter êxito.

Treinadores competentes saber melhor que os cartolas como planejar fortalecimentos dos times.

São questões técnicas esportivas e não políticas, burocráticas, econômicas,  ou de manutenção do poder. Exigem sabedoria dentro dos gramados.

Há outras, mas as mencionadas no post servem para embasar o tamanho da dificuldade que topou ao sair do Corinthians e aceitar a oferta para montar o time da camisa mais pesada do planeta do futebol.