Blog do Birner

Clubes daqui creem que Liga Sul-Americana é ‘golpe político’ de milionário

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De Vitor Birner

Establishment do futebol 

A Liga Sul-Americana de Clubes nem sequer foi constituída e há rachas por divergências na elaboração do estatuto. Os dirigentes gringos querem divisão geo-política, enquanto os daqui pretendem que cada agremiação tenha direito de se posicionar.

Quem 'habla' quer a formação de blocos por nação com direito ao voto nas questões que determinam a legislação e os posicionamentos da instituição. Quem fala é contra e exige que todo clube tenha direito a fazer escolhas próprias. Os cartolas acham que o sistema proposto pelos gringos distorce a representatividade e serve para que mantenham plenos poderes.

Os estrangeiros sugeriram que os blocos tenham pesos distintos nas votações. Os de Brasil e Argentina valeriam  quatro, o de uruguaios três, os de Colômbia, Paraguai, Chile, Equador e Paraguai dois por nação, e os da Bolívia de Venezuela o menor possível.

Esses últimos são os únicos que nunca ganharam a Libertadores.

Na prática, realmente o sistema dos gringos cria outra Conmebol, onde as confederações são as únicas que votam, em vez de transferir o poder para quem investe, revela, paga salários aos jogadores e tem os torcedores que na destrutiva perspectiva ultra-mercantilista são apenas os consumidores.

Mais força para as agremiações

Bolivar e The Strongest são os representantes da nação do presidente Evo Morales nessa iniciativa de construção da Liga Sul-Americana. Há uma dúzia de times daqui na mesma empreitada.

Em suma, indiretamente, cada voto boliviano valeria 0,5 (peso 1 dividido pelos dois),  'mais que os de clubes da CBF, pois doze encamparam a ideia.

O Flamengo, por exemplo, tem a maior torcida do continente. Talvez não necessite, especificamente por isso, direito de ter o voto com mais peso que os dos outros, mas não pode, na prática, aceitar qualquer inferioridade política funcional.

Os jogos da equipe tendem a gerar maior audiência e consequentemente mais dinheiro com patrocínios e negociações de cotas de transmissões.

O ideal seria que todo time tivesse direito ao voto. Há muitas divergências, por exemplo, entre os filiados à CBF, e em alguns momentos referendar o que a maioria quis foi o pior para nosso futebol.

 'Toca y me voy' dos bastidores

Os brasileiros, quarta-feira, foram embora no meio da reunião marcada para referendarem o estatuto redigido e enviado antes a para todas as agremiações do continente.

Avaliaram que havia acordo entre as estrangeiras, feito em silêncio, para alterar o que tinha sido combinado.

Palmeiras, São Paulo, Corinthians, Santos, Vasco, Fluminense, Flamengo, Botafogo, Internacional, Grêmio, Atlético e Cruzeiro queriam que o estatuto fosse embasado em nossa constituição, exigiam a sede em São Paulo por ser a cidade com maior volume de negócios, e tiveram convicção após a manifestação dos gringos que tudo fora combinado para nenhuma dessas prioridades ser apoiada.

Os estrangeiros escolheram Montevidéu como a sede da entidade.

Golpe político e investidor não mencionado 

Os dirigentes creem que o Paco Casal, dono da Gol TV, empresa que tenta comprar os direitos das transmissões dos torneios da Conmebol, articula em silêncio a formação da Liga Sul-Americana.

Nos bastidores afirmam que houve, por parte dos times de outras nações, a tentativa de golpe, pois o mercado que o Brasil oferece é indispensável, se a ideia for a construção de torneio rentável.

Em princípio, a formação da entidade não tem como prioridade a criação de competições. Mas se houvesse unidade entre os clubes, isso seria inevitável no médio prazo.

A outra opção seria a Conmebol aumentar a transparência e alterar o estatuto para os os clubes ganharem força.

O empresário, se realmente houver tal influência, por questões políticas não teria dificuldade para aprovar na votação em blocos a construção de outro torneio, inclusive se a oferta financeira for menor que a avaliação de mercado, tal qual acontece hoje com a entidade que criou e organiza a Libertadores.

Fundamental; Boca, Peñarol e outros líderes do movimento nunca citaram ninguém como possível investidor.

Como os dirigentes, aqui, creem que o empresário influencia, a criação da entidade ficou inviável nesse momento. Pode acontecer, mas sob tais condições não terá os clubes que necessita para gerar grandes lucros e ser forte.

Dentro e fora dos gramados, nas partes econômica e esportiva são imprescindíveis os 'nossos' mantos sagrados.