Blog do Birner

São Paulo catimbeiro, inteligente, humilde, que honra o manto sagrado

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De Vitor Birner

Cabeça e pés

O São Paulo conseguiu a classificação à semifinal da Libertadores porque foi mais capaz de raciocinar e entender as exigências do jogo.

Não mostrou superioridade coletiva, nem teve alguém na parte individual que brilhou acima dos outros atletas que resolveram nos gramados quem segue no torneio. Houve equilíbrio tanto no Independência quanto no Morumbi.

A agremiação de Bauza foi mais inteligente, tal qual diante do River Plate e The Strongest, quando podia ter sido eliminada, e contra o Toluca apenas no Morumbi.

O mata-mata começou para os jogadores do São Paulo ainda na fase de grupos.

Não podiam perder do River Plate em Nuñez, e tampouco empatar contra os 'hermanos' no returno. O tropeço, normal na altitude La Paz, os eliminaria.

Teve a partida frente o Trujillanos, mas era obrigação ganhar, por isso pesa pouco na explicação da campanha.

O time, após cada êxito em momento difícil, fortaleceu a personalidade e a capacidade de ser objetivo como o treinador exige.

Time catimbeiro como é necessário

Calleri tomou tapa na cara do Vangioni, não reagiu e o lateral do River Plate foi excluído do jogo no Morumbi.

O centroavante apanhou após o empate contra o The Strongest, tomou carrinho violento em lance parado e cotoveladas propositais de Leonardo Silva, e manteve exatamente a mesma postura que o coletivo necessitava para prevalecer.

Citei o argentino mesmo sabendo que toma cartões tolos, mas poderia mencionar outros jogadores. A capacidade de entenderem o que devem ou não fazer para o time ganhar é fundamental e fez parte do pacote que garantiu a classificação à semifinal.

Não teria conseguido 'apenas' com tática e técnica.

Ambas e nada mais resolvem os jogos nos quais há grande superioridade de alguma agremiação. Nas oitavas e quartas de-final, por exemplo, eram insuficientes, e tenho convicção que Bauza transmitiu isso ao elenco.

Ontem, o Atlético teve ambas no mesmo padrão do oponente. A ideia de se impor à força foi o maior problema para atingir o objetivo.

O São Paulo, após início abaixo do padrão que tem mostrado, percebeu e soube como aproveitar. Não fez faltas porque se irritou, enquanto o time então de Aguirre bateu em momentos tolos e facilitou a catimba.

O Leonardo Silva, experiente e referência no elenco, foi quem mais extrapolou. Mostrou muita raça e determinação, e pouca leitura das circunstâncias das quartas-de-final.

Os colegas de time, que tem o zagueiro como alicerce, fizeram igual e era exatamente como Bauza queria.

A plenitude do esporte mais popular

O jogo de futebol tem disputa física, emocional, técnica e tática. Tornar o andamento desconfortável para o oponente facilita a conquista de resultados positivos.

É possível fazer isso criando muitas oportunidades de gol, impedindo que a outra equipe finalize, tocando a bola, cadenciando ou acelerando o ritmo. Depende do que acontece no gramado e das possibilidades.

Apenas o clube de Bauza conseguiu entender os momentos das quartas-de-final. Quando atuou diante dos torcedores que hoje comemoram a classificação, manteve a proposta coletiva e a prioridade de não tomar o gol.

Foi como se conhecesse os próprios limites.

Ontem, fez igual. Nos momentos de oscilação técnica se fechou; e quando melhorou tocou a bola. Teve plena noção que o lance anterior não tem como ser jogado novamente e o seguinte é o único que podia acertar.

Manteve a humildade, pragmatismo, concentração e a proposta coletiva que treinou para se classificar.

Fundamental para alteração da postura

Conseguiu isso porque o ambiente no CT da Barra Funda melhorou após os gestores alterarem funcionários, metodologia, tamanho da exigência e do respeito aos jogadores. Fizeram sob protestos de torcedores contrários ao que foi melhor para o futebol da instituição.

Ninguém, no esporte, tem a fórmula precisa e infalível que garante resultados positivos. Mas a que gera os negativos raramente é muito mais eficaz.

O São Paulo cumpria com louvor muitos itens da que garante piora no desempenho ou, na melhor das hipóteses, evolução técnica e coletiva aquém do potencial do elenco. Isso impede qualquer clube de ganhar força nos jogos em que é necessária.

Construção em andamento

Não é favorito na Libertadores. Será difícil conquistar o torneio, assim como tem sido a missão dos oponentes superarem o time de Bauza, quando jogam na competição que prioriza.

As entrevistas, após a classificação, mostraram que o elenco tem ampla noção de como necessita raciocinar o futebol.

Quase ninguém falou sobre conquistar o torneio. O tema foi como ganhar a semifinal. Não houve atropelos inúteis. Gastar energia imaginando como será a comemoração ou disputar a decisão é desperdício e pode diminuir a concentração naquilo que é fundamental para o êxito.

Menos sonhos e mais futebol

O único que destoou, entre os que acompanhei, foi Denis. Carrega nas costas a bigorna por substituir o ídolo e ainda não mostrou ser capaz de cumprir a missão.

Citou, ao ser questionado pelos repórteres, que se for campeão o peso acabará.

Deveria, como os colegas, se concentrar mais em evoluir e encontrar a personalidade que têm os grandes atletas da posição, em vez de reclamar com alguém quando acontecem os gols.

A proporção de equívocos se comparada a de 'senhoras' intervenções é considerável e incomoda quem ama a agremiação.

Pode melhorar. Bauza deve ter notado e, nesse período de paralisação da Libertadores, fará algo para contribuir com o jogador. Não descarto que perca a posição.

São Paulo

Agora a direção necessita fazer outra mágica, pois financeiramente Carlos Miguel Aidar afundou o clube, para manter Maicon e trazer reforços pontuais, e tentar ganhar a semifinal.

Se perder, ao menos terá feito o que era mais difícil e fundamental. O manto sagrado tricampeão da Libertadores de novo é respeitado fora e principalmente dentro do CT da Barra Funda.

Exigências

Que a torcida não comece com o campeão voltou, Jason, soberano e outros clichês que em nada contribuem, e ainda podem criar ilusões dentro do elenco.

Cobrança honesta, embasada, além de apoio e humildade são mais construtivos.

Nem adianta exigir no torneio de pontos corridos a concentração e o empenho iguais aos dos jogos da Libertadores. O elenco, neste momento, é pequeno para ganhar o que recém-começou.

E quando o ônibus da agremiação chega ao Morumbi não há a festa magnífica e impressionante para recepcionar e incentivar.

O clima é outro para todos os atletas, torcedores, dirigentes, e será façanha a manutenção da intensidade na arquibancada e no campo.

A obviedade

Isso não significa que a agremiação será preguiçosa. Deve se empenhar para ganhar os jogos.

O ambiente que a Libertadores proporciona ninguém, inclusive os melhores treinadores e dirigentes do mundo, podem transformar em metodologia de preparação para todo elenco ter pleno empenho sempre que entrar em gramado.