Blog do Birner

Locomotiva ‘descorintianiza’ estilo do Alvinegro; não faltou emoção no jogo

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De Vitor Birner

Ferroviária 2×2 Corinthians

Tite não mexeu no esquema tático dos jogos anteriores.  A escalação que iniciou foi quase igual a da estreia na Libertadores.

Apenas Elias e Felipe, por recomendação de quem prepara o elenco na parte física, foram poupados.

O desempenho, apesar da manutenção de proposta coletiva e da maioria dos atletas, nem de longe lembrou o do clássico e da estreia na Libertadores, quando ganhou criando e fornecendo poucas oportunidades de gol.

Dificuldades

A Ferroviária marcou a saída de bola na área do Alvinegro, complicou a transição do time campeão nacional ao campo de ataque, e impôs o ritmo que pretendia.

Os treinamentos, sob orientação do português Sergio Vieira, para o torneio estadual, acontecem desde o fim do ano anterior, e rendem resultados.

Os jogadores da Locomotiva, mais bem preparados que os do oponente na parte física e posicionados de maneira elogiável, tornaram a partida intensa e rápida.

Os da agremiação gigante, porque ainda precisam mais tempo para adquirirem força, fôlego e entrosamento, sofreram com o ritmo imposto.

Os afeanos, pelos lados, conseguiram diversos cruzamentos, além de criarem algumas oportunidades pelo centro, onde o sistema de marcação corintiano é mais consistente.

Danilo referência; Rodolfo a parede

O sistema de marcação do Alvinegro abriu brechas e cometeu falhas, enquanto o de criação conseguiu mais de lances de gol que nos dois últimos jogos.

Ambos, quase sempre, pelos lados.

Aos 5, Danilo saiu da posição de centroavante e, rente à linha lateral, serviu Lucca. O goleiro Rodolfo, atento, fechou o ângulo. Aos 18, a equipe retomou a bola na meia, Romero tabelou com o veterano, cruzou, Juninho falhou e Maycon acertou a trave em lance muito favorável para comemorar.

Aos 26, Danilo mais uma vez se deslocou para a esquerda e tocou para Uendel cruzar. Após duas divididas por cima, Lucca chutou, Rodolfo rebateu, e o lateral que iniciou o lance ficou em frente a ele, livre, mas perdeu a chance de fazer 1×0 ao permitir que o goleiro, com a perna, brilhasse com sensacional intervenção.

Esse início do Corinthians, superior ao da Locomotiva, teve como bases do sistema ofensivo as jogadas pelos lados, a movimentação do veterano, e a chegada com muitos jogadores do meio [Maycon, Rodriguinho e Bruno Henrique]. além do zagueiro Vilson em alguns momentos, na área.

Equívocos, gol e Ferroviária melhor

Posicionados no 4-3-3- quando faziam a marcação alta, com Samuel e Wescley pelos lados do ataque e encarregados de recuarem ao meio de campo quando a equipe perdia a bola, os afeanos exigiram muita atenção dos laterais do Corinthians, de Romero, que marcou em frente ao Fagner, e Lucca, que fez o mesmo para auxiliar o Uendel.

Mesmo assim, Wescley, com uma dupla de oponentes 'em cima', conseguiu cruzar e Juninho, no meio da área, finalizou com enorme liberdade para fazer o gol. A defesa falhou, pois havia mais corintianos que jogadores na região do gramado onde o artilheiro chutou.

O Corinthians ficou desnorteado por alguns minutos e quase levou outro gol.

Aos 32, Samuel colocou o centroavante Tiago Adan em frente ao Cassio. O atacante superou quem pode tocar com as mãos na bola, mas Fagner quase em cima de linha o impediu de conseguir o que pretendia.

O panorama do jogo não foi alterado antes do intervalo.

O pênalti criado por Blatter

Fernando Gabriel, aos 2 minutos, cobrou o escanteio, Cassio rebateu e o lateral-direito Igor Julião por pouco não ampliou o resultado.

Aos 5, Danilo tentou fazer o passe, a bola tocou no braço do lateral-direito, e Flávio Rodrigues de Souza determinou que houve o pênalti.

O jogador da Locomotiva tentou evitar o contato da bola com o braço, mas não teve o reflexo necessário.

Esse tipo de infração inventada durante o reinado de Blatter e Valcke é muito ruim para o futebol, pois não há o toque deliberado, e sim a transformação da regra original, que é  simples, menos difícil de ser interpretada e muito mais realista de acordo com a dinâmica do esporte dentro de campo.

Essa subjetividade, se considerarmos o padrão de ética dos ultra-dinheiristas e enfraquecidos cartolas  sob investigação do FBI, é conveniente, pois permite que seja marcado qualquer pênalti e haja, sempre, uma justificativa para explicar por qual motivo, além de gerar debate muito chato para quem realmente curte o futebol.

Não criticarei a decisão do árbitro, pois preciso saber qual critério será colocado em prática ao longo do torneio. Como as orientações da comissão nunca são divulgadas, os jogos irão 'citar' o que é permitido.

Lucca não merece aplausos pela maneira como cobrou, Rodolfo acertou o canto, mas ultrapassou a bola para alegria dos corintianos.

Locomotiva acelera nos trilhos

Aos 11, Fernando Gabriel, da entrada da área, exigiu de Cassio a intervenção.

No minuto seguinte, Juninho, do mesmo local em que o colega havia finalizado pouco antes, chutou forte, e Cassio não conseguiu impedir a comemoração da torcida da tradicional agremiação do interior.

O goleiro falhou, tinha como intervir, mas não era o lance tão simples. As críticas devem ser direcionadas a ele e aos atletas do meio de campo.

Tite não falou, mas sabe que a equipe não pode permitir tantos chutes em gol dali com marcação frouxa, tal qual ocorreu nesse jogo, porque isso aumenta a possibilidade de equívoco do goleiro.

Os cruzamentos na área foram o ponto mais fraco de Cassio. Apesar disso o time tomou gol [o primeiro] em lance assim no qual não houve erro dele.

Treinadores mexem

Aos 18, Danilo, cansado, saiu e Giovanni Augusto entrou.

Tite queria aumentar a mobilidade do sistema ofensivo e, principalmente, adiantar a marcação para tentar o empate.

Os afeanos eram melhores e a marcação na frente poderia alterar a dinâmica de jogo. Outro fator óbvio é que retomar a bola na meia aumenta a possibilidade de fazer o gol.

Em seguida, Fernando Gabriel cedeu lugar ao Rafinha, pois o treinador pretendia aumentar a velocidade do contra-ataque. Notou que havia brechas para isso por causa da alteração de estratégia no Alvinegro

Aos 23, quase a escolha de Tite gerou o gol. Romero, mais adiantado, e na esquerda, não na direita como antes, fez a jogada de linha de fundo, cruzou rasteiro, e ninguém apareceu para finalizar.

Logo depois, Maycon foi trocado por Marlone.

Sérgio Vieira preferiu, então, reforçar o meio de campo com Danielzinho no lugar de Samuel. Avaliou que a possibilidade de ceder o empate era maior, naquele momento, que a de ampliar em lance de velocidade.

André substituiu o paraguaio e Caíque ocupou a vaga de Tiago Adan nas últimas mexidas dos treinadores, ambas na função de centroavante.

Outro detalhe: os laterais do Corinthians começaram a apoiar simultaneamente. Fagner, que pouco participara do sistema ofensivo, priorizou a criação e não mais os desarmes.

Corinthians de novo iluminado

O lateral direito fez a assistência no empate. Superou o marcador na corrida, cruzou por baixo, a bola desviou pouco no pé do zagueiro Wanderson, o suficiente para bater no de Giovanni Augusto e entrar no gol.

A Locomotiva, mais inteira na parte física, acelerou para ganhar.

Igor Julião cruzou, Cassio falhou, rebateu na área, Caíque chutou e Yago fez aquilo que o goleiro não conseguiu.

Caíque, lançado por Rafinha 'nas costas' dos zagueiros, tocou por cima do goleiro, saiu para comemorar, mas a bola caprichosamente tocou na trave.

Wescley foi outro que teve oportunidade, na área. Cassio, nesse lance, acertou.

Os afeanos, dentro da área,  finalizaram 3 vezes nos 5 últimos minutos, todas quase sem marcação.

Poderiam sair do gramado irritados, pois Uendel, em condição parecida com a deles, nos acréscimos, chutou e facilitou para o goleiro Rodolfo.

Relembro, relembro, relembro, relembro, relembro

Esse foi o jogo do Corinthians disputado com mais velocidade e que teve maior quantidade de oportunidades de gol. Não houve o tédio de outros compromissos da temporada.

A apresentação da Ferroviária, estilo de futebol ousado do time, e a oscilação do sistema de marcação alvinegro proporcionaram as grandes emoções.

O marasmo e as quedas de rendimento são normais no atual estágio de preparação. Tite reconstrói a parte coletiva e qualquer grande cobrança nesse aspecto, agora, será sensacionalismo que gera audiência e falta de conhecimento sobre formação de times de futebol.

Escalações

Ferroviária – Rodolfo; Igor Julião, Wanderson, Marcão e Thalisson; Juninho (Danielzinho), Fernando (Rafinha) e Rafael Miranda; Samuel, Tiago Adam (Caíque) e Wescley
Técnico: Sergio Vieira

Corinthians – Cassio; Fagner, Yago, Vilson e Uendel; Bruno Henrique; Romero (André), Maycon (Marlone), Rodriguinho e Lucca; Danilo (Giovanni Augusto)
Técnico: Tite

Árbitro: Flávio Rodrigues de Souza – Assistentes: Daniel Paulo Zioli e Alex Alexandrinho