Blog do Birner

Campo gritou para o Dunga no empate contra a Argentina

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De Vitor Birner

A seleção atua melhor quando Neymar é o falso centroavante.

Ganha mobilidade, qualidade, repertório ofensivo e força na marcação.

Proposta coletiva

O treinador deveria ter pensado nisso antes do jogo, mas preferiu formar o time com Ricardo Oliveira como centroavante, William e Neymar pelos lados do meio e do ataque, Lucas Lima entre eles à frente dos volantes Elias e Luis Gustavo, ambos priorizando a parte defensiva.

Não acho a formação ruim.

A questão é outra:

Mais que optar por esse ou aquele jogador, é fundamental escolher proposta capaz de destacar as virtudes deles, fazê-los mostrar futebol no mesmo nível ou superior à média em suas agremiações.

O treinador não pode desprezar aquilo que pode gerar harmonia coletiva.

Características

O Brasil tem jogadores para fazer forte marcação na saída de bola e adotar filosofia de futebol atualizada.

Mas Dunga  optou por permitir a troca de passes argentina até a linha que divide o gramado, pois queria investir no contra-ataque.

Isso chega a ser um contrassenso.

Neymar e Daniel Alves, no Barcelona, preferem a chamada marcação 'alta'. Lucas Lima e Ricardo Oliveira jogam assim no Santos e  Elias, no Corinthians, em muitos momentos, faz isso. William tem capacidade para agregar nas tentativas de retomar a bola na frente.

Não tem lógica implementar o esquema mais conservador, pois exige a alteração daquilo que a maioria faz corriqueiramente, e melhor.

Realista

A Argentina, com Di María como referência na criação, Lavezzi aberto no ataque e recuando para a meia, Higuaín de centroavante, Mascherano e Biglia, ambos volantes de marcação, e o mediano Banega, que é da posição e apoia, fez a marcação adiantada e seus jogadores se mexeram muito para confundirem o sistema defensivo.

Apesar de contar com Roncaglia, zagueiro limitado na parte ofensiva e que atual na lateral, e Rojo, que faz isso um pouco melhor, como opção de apoio, insistiu nos ataques pelos lados.

Rapidamente se impôs.

Impediu a transição de bola do oponente e expôs as brechas que havia entre o meio de campo e a linha de zagueiros e laterais do Brasil.

Fez o gol apenas aos 34, no lance onde havia apenas Lavezzi na área contra o quarteto, mas bastou ele se deslocar para receber o passe e finalizar, em frente ao Alisson, com muita facilidade e traduzir em resultado o desempenho superior de seu time.

Simples

O Brasil, antes do intervalo, marcou muito mal pelos lados e falhou nos toques, inclusive em alguns muitos simples.

A transição de bola da defesa ao ataque foi muito ruim.

Elias é um dos que se encarregam disso no seu clube. Lucas Lima, quando os volantes do Santos têm dificuldade, assume tal função e ainda consegue chegar na frente.

William pode receber, se necessário, tal incumbência.

Foi por falta de opções de jogadores para receberem os passes deles, não de fundamento técnico individual, que a transição de jogo foi tão ruim, pois o esquema tático engessado e a forma como foi implementado, com os atletas ainda longe uns dos outros, foi uma benção para os 'hinchas' e seus representantes no gramado.

Quase

A única alteração após o intervalo foi que o Brasil adiantou a marcação.  Mesmo assim, faltou intensidade e, de posse da bola, havia grandes lacunas entre seus jogadores.

A Argentina manteve o posicionamento.

Banega desperdiçou a oportunidade, ao chutar na trave, de ampliar o resultado.

Seu time continuou melhor até Dunga mexer na proposta coletiva.

Encaixe

O treinador optou por Douglas Costa no,lugar de Ricardo Oliveira e colocou Neymar como falso centroavante.

O santista nem pode ser criticado, pois a bola não chegou nele, inclusive quando se mexeu para facilitar.

A alteração melhorou muito o futebol do time por alguns motivos;

O atleta do Bayern atua no 'Guardiolismo' e por isso, seja na Liga dos Campeões ou Bundesliga, em Munique, Madri, Dortmund, Gelsenkirchen, Barcelona, Londres ou Jequié, faz a marcação na frente.

O barcelonista tem facilidade para se mexer, chamar o jogo, rapidamente chega perto de quem tem a bola,  facilita as tabelas. e aumenta o repertório der criação dos lances de gol.

Número

O time ficou trocando passes na frente e chegou na área da Argentina com mais jogadores porque a alteração diminuiu as lacunas entre eles.

Aos que não repararam, peço que notem quantos haviam lá quando Lucas Lima empatou, e nos lances antes da alteração.

A evolução foi além do resultado.

O Brasil mandou no meio de campo e atuou melhor.

Os argentinos, então, começaram a catimbar mais que jogar.

Mexeram

Renato Augusto entrou para exercer a função de Lucas Lima, que tinha amarelo, ficou irritado com alguns lances mais duros e podia ser excluído.

O meia do Corinthians, dono de grande leitura do que acontece no gramado, capaz de ser terceiro volante, meia e entrar na área para receber passes e cruzamentos, o que era fundamental porque Neymar não permaneceu nela, manteve o padrão.

Gerardo Martino, ciente que seu time perdera o meio de campo, colocou Gaitán e tirou Lavezzi, que atuam na mesma faixa do gramado e com funções similares, na frente, pelos lados.

Alterou as características do meio de campo depois, ao optar por Lamela, meia do Tottenham que pode atuar centralizado ou aberto, valoriza a posse de bola no campo de ataque, no lugar de Banega. Quase junto Higuaín saiu e Dybala, outro centroavante, entrou.

Instável

A Argentina conseguiu mais cruzamentos após as mexidas.

David Luiz se equivocou em alguns lances.

O zagueiro continua oscilando.

Perde a concentração em momentos do jogo.

Tinha feito isso antes de ser excluído por sair com a bola em velocidade, desde a entrada da área, em vez de tocar para outro jogador, adiantá-la demais, e fazer a falta.

Critério

O limitado Funes Mori, pouco depois,  merecia a expulsão por agredir, com um pisão, o Daniel Alves.

A Conmebol, se tiver coerência com o que tem feito, irá observar isso e provavelmente  suspender o zagueiro.

Ficha do jogo

Argentina – Romero; Roncaglia, Funes Mori, Otamendi e Marcos Rojo; Mascherano, Biglia e Banega (Lamela) e Di María; Lavezzi (Gaitán) e Higuaín (Dybala)
Técnico: Gerardo Martino.

Brasil – Alisson; Daniel Alves, Miranda, David Luiz e Filipe Luís; Luiz Gustavo e Elias; Willian (Gil), Lucas Lima (Renato Augusto) e Neymar; Ricardo Oliveira (Douglas Costa)
Técnico: Dunga

Árbitro: Antonio Arias (Paraguai) – Auxiliares: Eduardo Cardozo e Milciades Saldívar