Michel Bastos é importante; torcida precisa parar de queimar bons jogadores
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De Vitor Birner
Há uma parte da torcida do São Paulo que vira e mexe queima jogador importante para o time.
Reclamou de Danilo, não teve paciência com Casemiro, olhou torto ao Jadson, desconfiou muito de Rodrigo Caio, apenas para citar os mais recentes, todos com capacidade de agregar algo dentro de campo e ao elenco.
Na respectiva ordem, foram chamados de ''lento'', ''baladeiro'', ''ruim''e ''Danoninho''.
O meia taticamente sempre foi brilhante e crescia muito em clássicos e finais, o volante não tinha a maturidade que tende a adquirir, o líder de assistências do time que será campeão nacional enfrentou os problemas de ambiente que havia na época no CT da Barra Funda, e o que permanece na agremiação foi promovido, ainda muito novo, por Carpegiani, ao time de cima, por causa de em uma ausência do Carlinhos Paraíba e de o treinador contar com o pior elenco, de longe, que o clube montou na última década, e a experiência o fez e fará melhorar.
Em contraponto, atletas como Denilson, Dodô e Luis Fabiano, todos muito comprometidos em campo consigo mesmos e quase nada com o o clube, contaram com a enorme generosidade das arquibancadas.
Não
Michel Bastos é o mais recente alvo de reclamações descabidas.
Atuou em alto nível quando foi contratado e, informo aos que amam o assunto salário dos outros, recebendo valor que correspondia a cerca de 30% do pago ao Luis Fabiano.
Renovou por quantia inferior à oferecida por alguns outros clubes do país por confiar no projeto de Gustavo Vieira de Oliveira e crer que tinha optado pela agremiação que cumpre o combinado no prazo estipulado.
O dirigente foi demitido em seguida e houve meses de atraso.
Além disso e não apenas por tal motivo, caiu de rendimento, pois não é gênio, craque [até esses têm alguns altos e baixos], mas sim o atleta competitivo, com rodagem para os jogos mais difíceis e virtudes fundamentais no padrão contemporâneo do futebol, em especial cruzamentos, passes e chutes de média distância que geram gols.
Muitos torcedores, então, concluíram que o aumento salarial o fez se acomodar, quando, na prática, a insatisfação dos diversos problemas internos parecem ter tirado, naqueles jogos, parte da motivação fundamental para que mantivesse alto nível de concentração apenas nas questões do jogo dentro do gramado.
Hoje, compensa ressaltar aos 'salaristas', ele não ganha cerca 50% do que recebe o centroavante.
Quem observa Michel Bastos, nota o inconformismo dele quando erra alguns lances. Não é do tipo que foge da responsabilidade e dispensa auto-critica.
Diante do Santos, na semifinal, deu assistência no Morumbi, fez gol na Vila Belmiro, e mais que isso, atuou com muita seriedade.
No 3×0 fente o Sport, mereceu elogios pelo que mostrou no 1° t, piorou depois do intervalo, mas as falhas foram técnicas não por falta de esforço.
O amado Luis Fabiano, que mesmo se fizer um monte de gols e ajudar o time a chegar na Libertadores não alterará a fraca, cara e complicada terceira passagem pelo Morumbi, saiu de campo com parte da torcida cantando seu nome mesmo depois de jogar mal, enquanto parte desses vaiaram Michel Bastos, muito mais construtivo e funcional que o atacante.
Campo
A irritação dele foi compreensível.
Não é de hoje que precisa engolir críticas desproporcionais e olha os 'privilégios' de jogador que faz média na entrevista e enrola os torcedores.
É lógico que não falará disso.
Teria de citar questões concretas do gramado e incomodaria o colega de profissão.
Não há problemas entre eles, mas, sim, na avaliação de quem, em tese, os apoia.
Desnecessário
Ao fazer o gol diante do Sport, Michel Bastos desabafou colocando o dedo indicador em frente á boca, simbolizando que as vaias deveriam cessar.
Apesar de ter toda razão técnica para ficar irritado, não deveria retrucar os torcedores.
Mercado
Todos os principais treinadores das maiores agremiações no Brasil queriam muito contar com o futebol de Michel Bastos.
Ele tem ciência disso.
Na conta
Se for embora por causa dessas reclamações, inclusive porque pode receber mais noutras agremiações, esses que vaiaram deverão recordar, quando ele for elogiado ao trajar outro manto sagrado, quer foram fundamentais para tal.
Quem ama algo, seja o que for, como uma agremiação de futebol, raciocina sobre a maneira que pode contribuir pode torná-la mais forte.
Ficar discutindo em redes sociais, gritando na janela para provocar o vizinho, se limitar a isso e depois jogar contra o time para o qual diz torcer queimando atleta importante e valorizando quem pouco agrega , não é construtivo.
Faz mais mal à equipe do que quaisquer torcedores das oponentes conseguem secando.
Sou do tipo que acha a arquibancada pode ter relevância na construção da alma coletiva de quem deve representá-la durante os jogos.
Papel
O São Paulo, outrora, tinha fama de receber os jogadores 'problemáticos' e torná-los importantes para o elenco.
Serginho Chulapa, o maior artilheiro da história da agremiação, foi um deles.
Casagrande, após ter as portas fechadas no clube onde foi revelado, ficou uma temporada no Morumbi e avalia isso como fundamental para ter conseguido sucesso na carreira dentro dos gramados.
Depois, não permaneceu porque o custo do passe era muito alto e retornou, em alta, ao Parque São Jorge.
Hoje não há a menor paciência no São Paulo e sempre são eleitos os vilões para os fracassos.
Ouso dizer que Telê Santana, atualmente, não resistira à perda do Brasileirão, um quarto de século atrás, e cairia por causa da grita da torcida nas redes sociais. Optou por Ivan de titular e Ricardo Rocha como reserva naquela decisão do torneio.
O papel de um grande clube é formar o profissional.
O da torcida é 'carregar e reerguer' quem não rende o que pode por conta do momento técnico ruim, e criticar com veemência o jogador que não se esforça o suficiente ou privilegia desempenho individual em detrimento da necessidade coletiva.
Como Michel Bastos é experiente, lhe falta tal apoio da massa para reencontrar o ápice técnico.
Ressalto: tem mostrado bom futebol; mas pode melhorar, tal qual ele mesmo tem toda noção.
Paz
A torcida e o atleta precisam relevar tudo.
O jogador fez a parte dele e resta saber se o mesmo acontecerá com os melindrados torcedores. Se eles irão descarregar mazelas pessoais ou contribuir para a agremiação.
Na prática, a realidade é simples.
Ele não é indispensável e nem simples de ser substituído.
E, por ser experiente, sabe que se ganhar títulos entrará para a história, pois quem encerra jejuns de conquistas importantes de clubes gigantes, acaba sendo reverenciado e se transforma em ídolo.