Alexandre Mattos não é um mito, mas faz boa gestão no Palmeiras
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De Vitor Birner
Alexandre Mattos chegou ao Palmeiras como se fosse o redentor.
Ganhou o apelido de Alexandre 'Mitos' e foi transformado pelo imediatismo insano da parte maniqueísta da opinião pública, a mesma que precisa de heróis e vilões em tudo, no semideus capaz de tirar o time do purgatório de campanhas ruins e rebaixamento, elevá-lo ao céu de melhor do país e, apesar de não participar da Libertadores, quiçá do continente.
Esses mesmos que criaram enorme expectativa a respeito do diretor técnico, hoje parecem frustrados com ele, apesar da possibilidade concreta de a equipe ainda ganhar um torneio.
De qualquer maneira, o clube não encerrará o ano como a agremiação mais competitiva de nosso futebol.
Antes
O erro, nesse caso, foi de quem criou o 'Mitos'.
No Cruzeiro, onde comemorou duas vezes o título nacional mais importante, os maiores investimentos, no início da montagem do elenco, foram em Dagoberto, Diego Souza e Borges. E, mais tarde, no Júlio Baptista.
Na prática, esses experientes atletas foram coadjuvantes com alguma importância. Depois, Dagoberto e Borges, dependendo do momento, foram reservas, enquanto o meia-atacante hoje no Sport, ficou pouco mais de 5 meses na agremiação.
Ricardo Goulart, o melhor do elenco, e Everton Ribeiro, ambos trazidos como complementos, além de Lucas Silva que subiu das categorias de base, se transformaram em referências das campanhas, nos pilares das conquistas.
Normal
Ninguém, na realidade brasileira, consegue reformular o grupo de atletas, trazer duas dezenas e meia, e ter 100% de êxito.
Não há nenhum craque, aqui, capaz de garantir isso.
No contexto onde a maioria merece notas entre 5 e 7, a fase do jogador, o esquema tático, metodologias de treinamento, a gestão do futebol, a forma como são administrados os entreveros, tudo eleva ou piora o nível desses profissionais que trajam os mantos sagrados.
Ou seja; nem o cartola tem plena convicção que muitos escolhidos serão, de fato, reforços.
Competente
Isso não altera algo que parece quase inquestionável.
Ele merece muito mais elogios que críticas.
É preciso conhecer a realidade interna do Alviverde para embasar a opinião.
Na parte técnica, montou elenco melhor que o anterior.
Quando quase foi rebaixado em 2014, o clube gastou cerca de R$ 45 milhões em contratações.
Depois que Paulo Nobre trouxe Alexandre Mattos, saíram dos cofres do clube pouco mais que R$ 30 milhões para construção de novo elenco.
O presidente tem mérito, porque a Crefisa como parceira, bancou, por exemplo, a chegada de Lucas Barrios e a manutenção dele.
A folha salarial quando o time quase caiu era de R$6 milhões mensais.
Atualmente é de R$ 6,9 milhões, que corresponde a um aumento de 15%, valor pequeno se a proporção de gasto financeiro e aumento de qualidade esportiva for a referência.
Mais de 80 jogadores (contando os emprestados e encostados) receberiam salário e esse número foi reduzido para cerca de 60, o que impediu a sobrecarga financeira com pagamentos aos jogadores.
Títulos
Tem gente que avalia o gestor apenas pelas conquistas.
Elas são fundamentais, mas não podem servir como referência única em curto prazo.
Se for assim, todo jogador, treinador e dirigente que perdeu um torneio será considerado incompetente.
Tal raciocínio induz a pífia ideia que Messi é grosso quando perde a Liga dos Campeões.
Futebol não funciona de maneira tão superficial.
Em breve
Alexandre Mattos não é o semideus que inventaram, mas sabe exercer seu papel.
Obviamente, tem que melhorar seus resultados no próximo ano se, financeiramente, a agremiação propiciar tal oportunidade.
O mesmo se passa na maioria das agremiações que atuam na elite de nosso futebol.